Em Mateus 16 temos o anúncio profético da Igreja pelo próprio Senhor;
em Atos
temos o relato histórico da formação da Igreja pelo ministério dos
apóstolos; e nas
Epístolas, o ensino Divino quanto à Igreja pelo Espírito Santo. A
Epístola ao Efésios
apresenta este ensino em sua maior plenitude.
O capítulo 1 apresenta os conselhos de Deus com respeito a Cristo e a
Igreja.
Somos levados para antes da fundação do mundo para traçar a fonte de
todas as nossas
bênçãos no propósito eterno de Deus; somos transportados para a
plenitude dos tempos,
para ali ver a herança da glória quando todos os conselhos de Deus
serão cumpridos. Em
Efésios 2:1-10 temos a obra de Deus em nós, em vista dos Seus
conselhos para nós, pelo
qual Ele vivifica as almas mortas, as levanta juntamente com Cristo, e
as senta em Cristo
nos lugares celestiais.
Em Efésios 2:11-22 temos os caminhos de Deus conosco no tempo para
realizar os
Seus conselhos por nós na eternidade. Há o que Deus propôs para nós, o
que Deus opera
em nós, e o que o Deus faz conosco. Ele opera em nós para que possamos
ser vivificados
juntamente com Cristo; Ele opera conosco para que possamos ser
congregados em um
Corpo, adequadamente moldados juntos em um templo santo no Senhor, e
edificados juntos
para a habitação de Deus através do Espírito.
Podemos, contudo, entender prontamente que a epístola deve
necessariamente
começar com a revelação do propósito de Deus; pois a menos que
conheçamos os Seus
propósitos para a eternidade, não entenderemos os Seus caminhos no
tempo. Poderíamos
bem ser confundidos pela forma com que um pai treina o seu filho até
que aprendêssemos o
propósito final do pai para o filho. Limitando então os nossos
pensamentos à primeira parte
da epístola (Ef 2:1-10), vemos a Igreja apresentada com relação aos
conselhos e a obra de
Deus. A obra do homem e as responsabilidades do homem não têm nenhum
lugar nesta
passagem. Tudo é deliberado por Deus, e tudo é executado por Deus: e,
sendo de Deus,
tudo é perfeito.
Os versos 3-7 abrem os conselhos de Deus para os Seus santos
individualmente –
aqueles que compõem a Igreja. Nessa grande passagem vemos o caráter
das nossas
bênçãos, a fonte das nossas bênçãos, o fim que Deus tem em vista, e os
meios pelos quais
aquele fim é conseguido. Quanto ao caráter das nossas bênçãos, é
importante lembrar que
elas são espirituais, e celestiais, e em Cristo, já que somos tão
propensos a procurar bênçãos
que são materiais, e terrena, e em conexão com Adão. A compreensão do
verdadeiro caráter
das nossas bênçãos poderia ter um imenso efeito sobre o nosso testemunho.
Qual é o
objetivo da grande maioria dos assim chamados ministros de hoje? Não
é, na maioria das
vezes, fazer crentes morais e não espiritual, melhorar a sua posição
terrena e não chamá-los
para fora do mundo para o céu, e melhorar o primeiro homem mais do que
guiá-lo para a
nova posição em Cristo? Deus forma o nosso caráter e testemunho nos
instruindo no
verdadeiro caráter das nossas bênçãos e nos conduzindo para o gozo
delas.
Quanto à fonte de todas as nossas bênçãos lemos: “o Deus e Pai do
nosso Senhor
Jesus Cristo... nos escolheu Nele antes da fundação do mundo”. Todas
as nossas bênçãos
têm a sua fonte nos conselhos do coração do Pai. Descobrimos que o Seu
coração foi
colocado sobre nós antes da fundação do mundo. E Ele se alegra em que
o saibamos; e
amando ao Pai, consideramos um dos nossos mais elevados privilégios
que Ele tenha nos
revelado os segredos do Seu coração. Escolhido Nele antes da fundação
do mundo implica
uma escolha que é independente da cena da criação. Por isso o
propósito de Deus para nós
não pode depender de nada que fizemos ou podemos fazer. Nos
encontramos em um
mundo de tristeza e tentação, de oposição e perseguição, mas o
propósito de Deus não pode
ser alterado por nada do que somos chamados para passar hoje. O diabo
tentaria usar as
dificuldades do caminho para suscitar em nosso coração a desconfiança
de Deus e colocar
em questão a realidade do Seu amor. Mas aqui nos é permitido ver que o
amor do Pai está
por trás de tudo, e que, antes da fundação do mundo, Ele colocou o Seu
amor sobre nós em
vista de nossa bênção eterna quando o mundo não existirá mais. Como
isso estabiliza a
alma em sua jornada pelo mundo, para que nada do que acontece nos
caminhos de Deus
hoje possa tocar os conselhos de amor que foram estabelecidos na
eternidade e para a
eternidade.
Além disso, não somos apenas conduzidos de volta para antes da
fundação do
mundo para encontrarmos a fonte de toda a nossa bênção no coração de
Deus, mas somos
conduzidos em espírito para vermos o fim dos conselhos de todo o Deus
na glória. Assim
aprendemos que o Deus tinha proposto ter os santos diante Dele em uma
condição que seja
adequada a Ele: “santa e sem culpa diante Dele em amor” – santa em
caráter, sem culpa em
conduta, e em amor quanto à natureza. Nada menos se ajustaria ao
coração de Deus; pois se
Deus deve ter um povo diante Dele em uma condição ajustada a Ele, deve
ser em uma
condição na qual eles se pareçam com Ele. Somente aquilo que é
semelhante a Deus é
ajustado a Deus. Deus é santo no caráter, sem culpa em todos os Seus
caminhos, e amor em
Sua natureza. E nesta condição Ele se propôs a nos ter para que possa
deleitar-se conosco e
possamos nos deleitar com Ele. Nada menos se ajustaria ao Seu coração,
e nada menos nos
faria felizes em Sua presença. Nenhuma questão quanto ao caráter, ou
conduta, ou natureza
será jamais levantada naquela cena para frustrar a nossa alegria em
Deus ou a Sua
satisfação em nós. E o que será consumado em sua plenitude então é
operado em nossas
almas pelo Espírito hoje, se, no poder do Espírito, procurarmos
corresponder aqui em baixo
ao que estaremos em perfeição lá em cima.
Além disso, não somos apenas escolhidos para estar em uma condição
adaptada a
Deus, mas somos predestinados para gozar da relação de filhos diante
do Pai. Os anjos,
certamente, estarão perante Deus em uma condição adaptada a Deus, mas
eles estão ali na
posição de serviçais. Nós somos trazidos para o relacionamento de
filhos. Esse é o
privilégio especial ao qual somos predestinados segundo o beneplácito
da Sua vontade,
para o louvor da glória da Sua graça.
Ainda mais, em vista do cumprimento do propósito de Deus, devemos ser
remidos
e termos o perdão dos pecados pelo sangue de Cristo, segundo as
riquezas da Sua graça. O
apóstolo conectou a predestinação com “a glória da Sua graça”, agora
ele conecta a
redenção “com as riquezas da Sua graça”. A nossa grande necessidade é
satisfeita pelas
riquezas da Sua graça, mas a glória da Sua graça faz mais; ela nos
favorece e nos dá o lugar
de filhos. Encontrar a necessidade do pródigo mostra quão ricos eram
os recursos da graça
na casa do Pai; mas dando a ele o lugar do filho mostrou a glória da
graça no coração do
Pai. Na epístola aos Romanos a morte de Cristo é totalmente
desenvolvida na reunião de
todas as nossas responsabilidades, e assim ali o apóstolo exclama: “Ó
profundidade das
riquezas tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus”. Em Efésios
o apóstolo passa
além das nossas responsabilidades para revelar os nossos privilégios;
por essa razão não
temos apenas as riquezas da Sua graça, mas a glória da Sua graça.
Tendo então, os sete primeiros versos, revelado os conselhos do
coração do Pai
acerca do Seu povo, o apóstolo prossegue com as novas maravilhas. Ele
nos revela a
vontade secreta do Pai acerca de Cristo. Ele satisfez o nosso coração
revelando os
propósitos do amor, Ele deu o descanso de consciência pela obra da
redenção, e assim nos
libertou, estamos capacitados para entrar nos pensamentos de Deus
acerca de Cristo e a
Igreja.
Deus queria que conhecêssemos o mistério da Sua vontade, segundo o
beneplácito
do Seu prazer que Ele tinha proposto Nele mesmo para a aplicação na
plenitude dos
tempos. O que esta palavra “mistério” significa? É ela algo que não
podemos entender, ou é
misteriosa ou enigmática? Longe disso. Na Escritura um mistério é um
segredo que
possivelmente não pode ser conhecido até não revelado por Deus, e
quando revelado só
pode ser conhecido pelo instruído. Este mistério é segundo Seu
beneplácito; ele é um
segredo que dá prazer ao Seu coração, pois é concernente a Cristo.
Você diz que não
estamos interessados em mistérios, que deixamos essas coisas profundas
para outros!
Seguramente não, pois isso significaria que estamos contentes de saber
o que Deus tem em
Seu coração para nós, sem qualquer interesse quanto ao que Deus tem em
Seu coração para
Cristo.
Aqui o mistério faz referência à “plenitude dos tempos” quande Deus
terá tudo
aplicado segundo a Sua mente; quando tudo o que Deus instituiu em
outros tempos, e que
falhou tão completamente nas mãos dos homens, será aplicado em toda a
sua plenitude por
Cristo. O governo, o sacerdócio e a realeza foram instituídos por Deus
em outros tempos,
somente para ser quebrado porque foi confiado à responsabilidade do
homem. Mas o tempo
está vindo quando tudo será visto em perfeição e plenitude. Isto será
realizado pelo
direcionamento de todas as coisas em Cristo, tanto as coisas que estão
no céu como as que
estão na terra. No presente Cristo está escondido; mas quando Ele vier
em glória, toda a
confusão, a tristeza e a desordem deste mundo passarão. O reino de
Satanás será findo, o
tempo da cegueira de Israel será acabada, o governo ímpio das nações
gentias será fechado,
o gemido da criação será silenciado, e a maldição será retirada. Todos
serão trazidos, não
pela pregação do Evangelho, como alguns orgulhosamente imaginam, ou
por algo que o
homem possa realizar, mas apenas por Cristo. Quando Ele estabelecer o
Seu trono – quando
Ele reinar – todos serão conduzidos para o beneplácito de Deus.
O Velho Testamento abundantemente prediz “os sofrimentos de Cristo e
as glórias
que devem seguir”, quais glórias, muito embora elas alcancem os
limites máximos da terra,
ainda são terrenas e não celestiais. Isso não é nenhum segredo ou
mistério; ao contrário os
profetas estão cheios de descrições incandescentes do reino terreno.
Quando, contudo,
vamos ao Novo Testamento, Deus nos revela o grande segredo, que o
domínio de Cristo se
estenderá imensamente além dos limites da terra; para que como um
Homem, Cristo
domine não somente “do mar ao mar, e do rio aos confins da terra”, mas
sobre todo o vasto
universo de Deus aos limites máximos da criação; para que Ele seja
colocado muito acima
de todo principado, poder, força e domínio, e todo nome que é nomeado,
não apenas neste
mundo, mas também naquele que deve vir; sim, mais, para que todas as
coisas no céu e na
terra sejam reunidas sob Cristo como o Cabeça.
Deus abundou em nós toda a sabedoria e inteligência em fazendo assim
conhecido
a nós não apenas o Seu propósito para Seu povo, mas os segredos do Seu
coração para
Cristo; não só o Seu propósito para a terra, mas os Seus segredos
acerca de todo o universo.
Os céus estão agora separados da terra, mas não será sempre assim.
Deus propôs unir o céu e a terra sob Cristo como Homem. Este é o mistério da
Sua vontade, mas ainda assim ele
não é todo o mistério. Pois o mistério diz respeito a: “Cristo e a
Igreja” (Ef. 5: 32). Não só
Cristo, nem só a Igreja, mas Cristo e a Igreja. Isto nos conduz a
parte mais assombrosa do
mistério; que no dia do Seu domínio universal, Cristo terá uma vasta
companhia de pessoas
salvas da destruição e ruína deste mundo caído – feitas semelhantes a
Ele como o resultado
da Sua própria obra, unidas a Ele pelo Espírito Santo, para
compartilhar com Ele em toda a
glória do Seu domínio universal como o Seu Corpo e a Sua Noiva.
A porção restante deste capítulo traz para diante de nós mais esta
verdade. O
apóstolo continua: “em quem também temos uma herança”. Nos versos 11 e
12 ele fala dos
crentes judaicos, no verso 13, dos crentes gentios, e no verso 14, ao
falar “da nossa
herança” ele se refere tanto aos crentes judeus como aos gentios
juntos.
Assim, para usar as palavras de outro, esse grande mistério é “Cristo
e a Igreja
unidos em bênçãos celestiais e domínio sobre tudo o que Deus fez”.
Cristo reinará sobre Israel, sobre os gentios, sobre todo o universo,
mas nunca é
dito que Ele reinará sobre a Igreja. Cristo, de fato, será sempre
supremo, mas para o louvor
da Sua glória a Igreja reinará com Ele.
Isso é tornado mais abundantemente pleno através da oração do apóstolo
que fecha
o capítulo. Tendo revelado a esperança do chamamento nos versos 3-7, e
a herança nos
versos 8-14, o apóstolo agora ora para que possamos conhecer essas
coisas, e além disso
que posamos conhecer a grandeza do poder para nós que trará essas
verdades gloriosas à
realização. Este poder foi estabelecido na ressurreição de Cristo dos
mortos e no
estabelecimento Dele “sobre tudo” e na colocação “de todas as coisas
abaixo dos Seus pés”.
Mas embora seja dado a Cristo como Homem ser o Cabeça sobre todos, Ele
é o Cabeça da
Igreja que é o Seu Corpo, a plenitude Daquele que cumpre todas as
coisas. Aqui a Igreja é
vista como o Corpo de Cristo, não nos caminhos de Deus na terra, mas
de acordo com os
conselhos de Deus na glória.
No começo do capítulo temos a revelação dos conselhos de Deus para os
indivíduos que compõem a Igreja. No final do capítulo, os conselhos de
Deus para a Igreja,
como um todo, sob a figura de um corpo. Somos levados para um tempo
quando o Corpo,
completo na glória, será unido ao Cabeça em Seu domínio sobre todas as
coisas.
Adão e Eva fornecem um tipo de Cristo e a Igreja. Eva não foi
diretamente
colocada no domínio sobre este mundo abaixo, mas Adão foi. É verdade
que Deus disse a
eles: “Frutifiquem... e dominem”, mas na realidade Adão foi colocado
no domínio antes
que Eva fosse formada. A criação dos animais foi trazida para Adão
nomear; ele estava em
relação com tudo como o cabeça sobre todos, e pela associação com
Adão, Eva
compartilhou o seu domínio.
Assim a Igreja pela associação com Cristo, compartilhará do Seu
domínio universal sobre toda a criação. E assim como foi dito que Eva era uma
adjutora de Adão – a sua contraparte – assim se diz que a Igreja é a plenitude
Dele que cumpre tudo em todos. À parte da Igreja, Cristo necessitaria da Sua
plenitude. Como alguém disse: “Como o Filho de
Deus, Ele, naturalmente, não precisa de nada para completar a Sua
glória; mas como
Homem Ele precisa. Ele não seria mais completo em Sua gloriosa
ressurreição sem a Igreja
como Adão não teria sido sem Eva.”
Por HAMILTO SMITH.
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