7 de janeiro de 2013

Parte 8. A Igreja como o Corpo de Cristo (Parte 1)



Nos capítulos anteriores, depois de obtermos uma visão geral da verdade acerca da
Igreja, consideramos um aspecto especial dela – a Casa de Deus. Há, contudo, outro
aspecto importante no qual a Igreja é apresentada na Escritura, a saber, como o Corpo de
Cristo. É isso que agora podemos considerar resumidamente.

Em relação a esse aspecto da Igreja, a linguagem da Escritura é muito precisa.
Lemos em Colossenses 1:18, que Cristo “é a Cabeça do Corpo, a Igreja”, e novamente em 1
Coríntios 12:12 e 13, “assim como o Corpo é um, e tem muitos membros, e todos os
membros do Corpo sendo muitos, são um só Corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós
fomos batizados em um Espírito formando um Corpo, quer judeus quer gregos, quer servos
quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. Dessa Escritura está claro que todos os
crentes são formados em um Corpo pelo Espírito Santo na terra com uma Cabeça no Céu.
Vimos que os homens foram iniciados pelo batismo com a água na profissão cristã que
forma a Casa de Deus na terra. É claro, contudo, que nenhum batismo por água pode
conduzir as pessoas ao Corpo de Cristo. Isto só pode ser efetuado pelo batismo do Espírito
Santo. Assim apenas o que é verdadeiro pode ter alguma parte no Corpo de Cristo. Ao
pensarmos no Corpo de Cristo, devemos olhar para os cristãos apenas à luz da obra de Deus
neles. É verdade que a carne ainda está em nós, mas Deus a condenou, e vendo-nos à parte
dela, nos vê “em Cristo” e “no Espírito.” Isto é, Deus sempre vê o Seu povo com relação a
Cristo e ao Espírito, e somos privilegiados por nos vermos do mesmo modo. Alguém disse:
“É somente nessa luz que podemos falar da qualidade de membro do Corpo; nada encontra
de alguma forma lugar no Corpo de Cristo além do que é de Cristo – de Deus. Não há como
imaginar tais coisas como fracasso ou carne no Corpo de Cristo”. Aqueles que compõem o
Corpo, tendo a carne neles, podem de fato falhar em conseguir andar na correspondência
com a verdade, mas no próprio Corpo tudo é de Cristo. É o Seu Corpo.

Há três porções da Escritura que, de um modo especial, apresentam essa grande
verdade: Efésios l e 2; Colossenses 1 e 3; e 1 Coríntios 12 e 14. Em Efésios o Corpo é
apresentado em seu aspecto eterno segundo os conselhos do Pai. Em Colossenses é
examinado em seu aspecto temporal como o vaso para a exposição de Cristo. Em 1
Coríntios o Corpo é apresentado como o instrumento para as manifestações do Espírito na
terra.

As manifestações do Espírito através do Corpo têm em vista a exibição de Cristo
pelo Corpo no tempo; e a exibição de Cristo agora é apenas o prelúdio da aparição posterior
de Cristo em Sua plenitude nas eras vindouras segundo os conselhos do Pai.

Primeiro, então, podemos considerar a verdade do Corpo segundo os conselhos do
Pai. Em Efésios 1 o grande objetivo é o propósito do Pai para a glória de Cristo. O capítulo
revela “o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo,
de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos”
(versos 9 e 10). Além disso, nesses conselhos a Igreja tem um lugar do mais alto privilégio
em relação à glória de Cristo, e por essa razão nós também somos informados sobre o
futuro destino da Igreja como o Corpo de Cristo. Aqui a Igreja é vista, não em relação ao
tempo presente, mas em relação à “plenitude de tempos”. Nos é permitido olhar para além
do momento presente, com todo o seu fracasso, e ver a glória futura da Igreja como o
Corpo de Cristo. Naquele dia “a Igreja que é o Seu Corpo” será “a plenitude Daquele que
cumpre tudo em todos” (versos 22 e 23). Segundo o conselho de Deus, o dia está chegando
quando Cristo encherá todas as coisas. Todo o universo será cheio de bênção através de
Cristo, mas, naquele dia, será o privilégio especial da Igreja expressar “a plenitude Daquele
que cumpre tudo em todos”. Embora tudo seja abençoado por Cristo, e seja a glória de
Cristo, ainda assim tudo não expressará a Sua plenitude. Isso será reservado para a Igreja.
Um santo individual pode exibir algum traço de Cristo, todas as coisas no mundo vindouro
exporão Cristo em grande medida, mas somente na Igreja como o Corpo de Cristo estará a
exibição perfeita de Cristo em toda a Sua plenitude. A plenitude transmite o pensado de
perfeição. Assim, não será apenas a exibição de Cristo, mas será a exibição em perfeição.
Isto é, não apenas toda a excelência de Cristo será vista, mas tudo será visto na proporção
correta. Nenhum traço predominará; todos serão exibidos em perfeita proporção e relação
de uns com os outros do mesmo modo que os membros de um corpo humano normal estão
todos em proporção e expressão da mentalidade da cabeça. Mas o que será de fato
verdadeiro então deveria ser moralmente verdadeiro agora.

Isso leva à verdade do Corpo como o vaso para a exibição de Cristo no tempo.
Para este aspecto da Igreja como o Corpo de Cristo, devemos então voltar à epístola aos
Colossenses. O grande objeto dessa epístola é o de revelar o esplendor de Cristo como o
Cabeça. Lemos em Colossenses 1:18: “Ele é a Cabeça do Corpo, da igreja” É, além disso,
o desejo de Deus que a glória moral do Cabeça no céu tenha uma exibição presente através
do Corpo na terra. Por essa razão o apóstolo, tendo falado do ministério do Evangelho,
prossegue para falar de um segundo ministério em relação ao Corpo de Cristo “que é a
Igreja” (verso 24). Ele fala dessa verdade como “o mistério que esteve oculto desde todos
os séculos, em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos Seus santos”. Além disso,
ele fala da glória desse mistério como sendo “Cristo em vós, a esperança da glória”.

O apóstolo coloca ênfase especial nesses dois grandes fatos. Primeiro, o
determinado momento quando o mistério é revelado, e segundo, a glória especial desse
mistério no tempo presente. Esses dois grandes fatos têm ligação direta um com o outro.
Por que, podemos perguntar, o mistério é tornado conhecido “agora”, e não antes? Porque
três grandes eventos tiveram que vir sem os quais a Igreja não poderia existir de fato ou se
tornar conhecida como uma verdade. Cristo tinha que ser exaltado como o Cabeça glorioso
no céu, o Espírito Santo tinha que vir à terra, e por fim, Cristo tinha que ser finalmente
rejeitado pelos judeus.

Os dois primeiros eventos foram absolutamente necessários antes que a Igreja
pudesse ser formada. Deve haver o Cabeça no Céu antes que possa haver Corpo na terra, e
o Espírito Santo deve vir para viver nos membros e assim transformá-los em um Corpo na
terra com um Cabeça no Céu. Mas o Corpo existia como um fato antes que a verdade fosse
tornada conhecida. Por isso o terceiro grande evento foi necessário. Se a verdade de judeus
e gentios sendo formados em um Corpo tivesse sido revelada antes de Cristo ser rejeitado,
ela teria contrariado todas as promessas expressas de Deus aos judeus sob a primeira
aliança. Mas quando os judeus finalmente rejeitaram a Cristo, a primeira aliança chegou
definitivamente ao fim, e o caminho está preparado para revelar a verdade da Igreja como o
Corpo de Cristo. A rejeição foi final e completa quando Estevão foi apedrejado. Pela cruz o
homem tinha rejeitado a Cristo na terra, e pelo martírio de Estevão eles rejeitaram a Cristo
no Céu. Eles apedrejaram o homem que testemunhou o fato de que Cristo está no céu.
Assim chegou o momento para revelar o grande segredo que, embora o próprio Cristo tenha
sido rejeitado, o Seu Corpo está na terra. Preste atenção, não que os pecadores salvos pela
graça estarão no Céu – esse é o Evangelho e não há nenhum mistério nele; o ladrão que foi
crucificado sabia disso – mas o segredo é agora revelado que Cristo tem a Igreja – o Seu
Corpo – no lugar da Sua rejeição durante o tempo da Sua rejeição. A primeira notificação
dessa grande verdade é dada em relação à conversão do homem que foi feito o ministro
dessa verdade. O Senhor disse a Saulo: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” Não é: “Por
que você persegue os Meus discípulos”, ou “os que me pertencem”, ou “aqueles que são
parte de Mim”, mas “Por que ME persegues?” Como alguém disse: “Naquelas poucas
palavras está comunicado o fato de que Cristo está aqui”.

Além disso, se Cristo está aqui naqueles que formam o Seu Corpo, é porque Cristo
pode ser exibido pelo Seu Corpo. E Cristo exibido na Igreja hoje é “a esperança da glória”.
Na glória, como vimos na epístola aos Efésios, Cristo será exibido em Sua plenitude. Mas a
esperança da glória deve ter um cumprimento presente. Por essa razão o apóstolo prossegue
para mostrar como Cristo nos santos deve resultar na exibição de Cristo pelos santos.
Assim o pensamento presente de Deus para o Corpo – composto de todos os santos em
qualquer dado momento na terra – é que nisso deve haver o estabelecimento de Cristo
moralmente, e assim o Corpo na terra corresponda ao Cabeça no céu.

No segundo capítulo de Colossenses o apóstolo mostra como Deus operou para
fazer isto acontecer e nos adverte dos diferentes dispositivos pelos quais o diabo procura
frustrar o propósito presente de Deus nos santos. Primeiro somos advertidos contra as
opiniões enganadoras dos homens, apresentadas de forma muito atraente pelo discurso
persuasivo (verso 4); então a filosofia, ou o amor pela sabedoria humana tirada das
tradições dos homens e dos elementos do mundo (verso 8); além disso, somos advertidos
contra a religiosidade da carne, ligada a abstinência de certa comida e a observância de
certos dias (verso 16); finalmente somos advertidos contra a superstição, como o culto a
anjos (verso 18).

Se devemos exibir as belezas morais de Cristo, temos que conhecer a Cristo.
Temos que conhecer Aquele cujo caráter devemos expor. As opiniões dos homens, a
filosofia do homem, a religião carnal, e as superstições dos homens não nos ensinarão nada
do caráter de Cristo nem nos habilitarão a expormos aquele caráter quando conhecido.

Depois que somos advertidos acerca dos laços do inimigo, somos instruídos
quanto à provisão que Deus fez para que a perfeição moral do Cabeça possa ser exibida no
Corpo. Em conexão com isso quatro grandes verdades são estabelecidas:

Estamos “perfeitos Nele” (verso 10).

Estamos identificados com Ele (versos 11 a 13).

Somos Dele: “o Corpo é de Cristo” (verso 17).


Obtemos toda a nutrição espiritual Dele (verso 19).

1. Estamos “perfeitos Nele”. Nele habita toda a plenitude da Divindade; por isso,
tudo o que possivelmente podemos precisar para que possamos conhecer a Cristo e exibir a
Cristo é encontrado Nele – estamos completos Nele. Estamos completamente
independentes do homem como homem. As suas opiniões, a sua filosofia, e a sua religião
não podem nos conduzir a Cristo não podem revelar o Seu caráter, ou nos habilitar a expor
as Suas belezas morais.

2. Estamos identificados com Ele. “Na cruz, no sepultamento, na ressurreição, e na
vida, Deus identificou o crente com Cristo. Na cruz – anunciada pela circuncisão – Cristo
verdadeiramente morreu para tudo o que é da carne; no sepultamento Ele verdadeiramente
ficou longe da vista; na ressurreição Ele verdadeiramente ficou para sempre fora do
domínio da morte; e como vivificado Ele passou para uma cena de glória em uma vida e
condição que é inteiramente ajustada à glória de Deus. Agora o que é realmente verdadeiro
para Cristo é verdadeiro para os santos na visão de Deus que nos identifica “com Ele,” e a
fé vê com Deus. Sabemos que a nossa carne foi morta em Cristo; e não foi apenas morta,
mas ficou longe da vista, pois fomos “sepultados com Ele no batismo”. Além disso, no
espírito fomos ressuscitados com Ele, para que a morte perca o seu poder sobre nós. E
embora os nossos corpos mortais ainda não estejam vivificados, quanto às nossas almas,
vivemos para Deus naquela vida celestial mostrada em Cristo.

3. Estamos às Suas ordens – “o corpo é de Cristo”. As ordenanças da lei foram
apenas sombras e foram dadas ao primeiro homem que é da terra, terreno. Mas as coisas
vindouras, das quais as ordenanças eram apenas a sombra, são de Cristo, o Homem
celestial. E se Cristo é celestial, o Corpo que é de Cristo também é celestial. “Qual o
celestial, tais também os celestiais”. Por enquanto estamos na terra, mas somos do Homem
celestial, e por essa razão pertencemos ao céu.

4. Conseguimos toda a nutrição do Cabeça. Se a Igreja é celestial, só pode ser
nutrida pelo céu. Não há nada da terra que possa servir ao homem do céu. Não há nada do
homem como tal que possa servir de nutrição para o Corpo, ligar os membros juntos, ou
conduzir ao incremento espiritual. Tudo deve vir do Cabeça no céu, ministrado ao Corpo
pelas juntas e ligaduras do Corpo. Como o Cabeça no céu é para a nutrição do Corpo na
terra, assim o Corpo na terra é para a exibição do Cabeça no céu. Por não mantermos o
Cabeça, podemos falhar em mostrar o Cabeça, mas Cristo – o Cabeça – nunca falhará em
nutrir o Seu Corpo; Ele tem cuidado com o Corpo e com cada membro do Corpo.

Esses quatro grandes fatos – de que somos “completos Nele”, de que estamos
identificados “com Ele”, somos Dele, e conseguimos toda a nutrição Dele – todos eles nos
levam ao cumprimento do propósito presente de Deus para o Corpo, a saber, a
demonstração do caráter do Cabeça no Corpo. Isso é visto de um modo prático nas
exortações seguintes.

Baseado no que é da Igreja nos dois primeiros capítulos, somos exortados a nos
“revestirmos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de
benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e
perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos
perdoou, assim fazei vós também. E sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da
perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em
vossos corações, e sede agradecidos” (Colossenses 3:12-15). Esse é o caráter amoroso de
Cristo, marcado pela graça com o seu perdão ilimitado, pelo amor que agrega todas as
outras perfeições juntas, e pela paz governando o coração, as quais os santos, na unidade de
“um Corpo”, são chamados para exibir enquanto ainda na cena da ausência de Cristo e
esperando pelo dia da Sua aparição.

Que bela apresentação de Cristo seria se os santos, como “um Corpo”, fossem
marcados pela graça, pelo amor e pela paz. Embora em um dia de ruína em nossas práticas
que estão distantes deste belo quadro, não abaixemos o padrão. Alguém verdadeiramente
disse: “Mesmo se a prática não puder chegar a isso, e mesmo se for impossível conduzir os
santos ao verdadeiro padrão, vamos ter a idéia correta. É uma grande coisa ter a idéia
correta; mas então se a temos, vamos esperar que o Senhor dê graça para andar segundo a
idéia correta, em sua verdade, muito embora você não possa esperar ver as coisas
restauradas ao que elas foram quando primeiramente estabelecidas”.

Por HAMILTO SMITH.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.