31 de julho de 2010

12 Cartas a um novo Convertido - 1ª Paz com Deus


Prefácio


Estas cartas a um novo convertido estão sendo reimpressas, sem alteração, da revista Christian's Friend (Amigo do Cristão). Elas foram originalmente escritas em 1877 pelo editor para ajudar uma pessoa que havia se convertido há pouco tempo e que nunca tivera a oportunidade de receber um ensino oral. Considerando que os assuntos tratados são de interesse vital e permanente, são agora publicadas com a oração de que o Senhor possa Se agradar em abençoá-las para a edificação de muitas ovelhas de Seu rebanho.

Blackheath, Dezembro de 1877

Índice das 12 Cartas - Por favor leia todas e na devida ordem.

 1ª Paz com Deus
 2ª Nosso Lugar Perante Deus
 3ª Nosso Lugar Neste Mundo
 4ª O Corpo de Cristo
 5ª A Mesa do Senhor
 6ª A Ceia do Senhor
 7ª O Senhor Jesus Cristo no Centro
 8ª O Verdadeiro Lugar de Adoração
 9ª Adoração
10ª Ministério
11ª A Palavra de Deus
12ª Oração

Extraído do site: http://www.stories.org.br/doze.html

1ª Paz com Deus

Prezado _______________________________:

Você se queixa de não ter uma "paz firme" e que por isso está fazendo pouco progresso na verdade ou no conhecimento do Senhor. Sua reclamação, sinto admitir, não é algo incomum, mas brota de um conhecimento imperfeito do evangelho e por você confundir duas coisas que são diferentes. Portanto espero, com a bênção do Senhor, ser capaz de ajudá-lo, isto se você estiver disposto a considerar cuidadosamente o que estou para escrever.

Seu caso me faz lembrar de outra pessoa com quem me deparei recentemente. "Você tem paz com Deus?", perguntei. Sua resposta foi: "Nem sempre...". Assim como no seu caso, confunde-se a paz estabelecida com o desfrutar dessa paz. Quero dizer, quando você está alegre no Senhor, diz: "Agora sim, eu tenho paz"; mas quando fica deprimido por causa de algum fracasso ou tribulação acha que sua paz foi-se embora.

Para prover uma solução para um sentimento assim, quero que considere atentamente quais são os fundamentos da paz com Deus. A alma tem muito a ganhar quando percebe com clareza que estes fundamentos não se encontram dentro, mas fora. Então poderá também enxergar que nossas experiências nada têm a ver com a questão.

Leia comigo Romanos 5.1. Ali vemos que, "sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo", e se examinarmos a ligação desta passagem com o contexto, aprenderemos, de uma vez por todas, qual é a origem da paz a que ela se refere. É este o contexto: Depois de haver explicado a maneira pela qual Abraão foi justificado diante de Deus, o apóstolo Paulo continua: "Ora não só por causa dele está escrito, que lhe fosse tomado em conta, mas também por nós, a quem será tomado em conta; os que cremos nAquele que dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação. Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 4.23-25; 5.1).

Esta passagem deixa bem claro que o único fundamento de paz com Deus está na obra de Cristo. Na realidade, após o fundamento haver sido assim colocado, Deus declara que todo aquele que crê em Seu testemunho a esse respeito, crê que Ele intercedeu em graça para providenciar tudo o que era necessário para a salvação do pecador. E declara ainda que aquele que assim crê em Deus está justificado e, por estar justificado, já tem a paz que foi feita pela morte de Cristo - já entra na posse dela. Mas, deve ser observado que está escrito que Cristo foi entregue por nossas ofensas, e que "ressuscitou para nossa justificação" (Romanos 4.25). Ou seja, a ressurreição de Cristo é a prova final que demonstrou como foi completa a Sua obra; a evidência de que os pecados pelos quais Ele morreu, e sob os quais desceu até à morte, foram-se para sempre.

A ressurreição de Cristo é o testemunho de que todas as exigências de Deus que recaíam sobre nós foram plenamente atendidas e satisfeitas. Pois se Ele foi entregue por nossas ofensas, e deixou o túmulo, tendo sido ressuscitado da morte, as "ofensas" sob as quais Ele padeceu a morte foram-se para sempre, caso contrário Ele continuaria na sepultura. Portanto, a ressurreição de Cristo é a expressão clara e enfática da satisfação de Deus com a expiação que foi feita na cruz.

Fica assim mais que evidente, como já foi dito, que o único fundamento de paz com Deus está na morte de Cristo. Isto é repetido muitas e muitas vezes nas Escrituras. Em Romanos 5.9 lemos que somos "justificados pelo Seu sangue"; e em Colossenses 1.20 diz que "havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz". Portanto, é Cristo (e não nós) Quem faz a paz com Deus, e Ele já a fez por meio de Sua morte como sacrifício - a morte que cumpriu todas as exigências que Deus fazia ao pecador, e que satisfez tudo aquilo que Ele com justiça poderia requerer do homem, glorificando ainda a Deus em cada atributo de Seu caráter. É por isso que Deus agora pode rogar ao pecador que se reconcilie com a Sua Pessoa. "Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus" (2 Coríntios 5.20).

Depois de haver explicado tudo isso, é necessário fazer à alma uma importante pergunta: Você crê no testemunho de Deus a respeito do Seu Filho e da obra que Ele consumou? Se houver qualquer dificuldade para responder a esta pergunta, então nenhum progresso poderá ser feito. Todavia um teste simples ajudará a elucidar a verdade. Mais uma pergunta, e tenho certeza de que você perceberá claramente a verdade: Em que você se baseia para pensar que Deus o aceita? Será que é em si próprio, em suas obras, seus méritos ou no que merece? Se assim for, então você não está descansando na obra de Cristo. Porém, se você reconhece que, por natureza, é um pecador perdido e arruinado, e confessa que não põe a sua esperança em coisa alguma além de Cristo e naquilo que Ele fez, então você pode humildemente dizer: "Pela graça de Deus eu creio no Senhor Jesus Cristo".

Supondo, então, que você possa falar dessa maneira, esteja certo de que a questão de sua paz com Deus está resolvida para sempre e nada poderá privá-lo dela - nenhuma mudança, nenhuma experiência diversa; pois ela é sua imutável e inalienável possessão. As Escrituras dizem que, "sendo pois justificados pela fé" (e você diz que crê), "temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 5.1). Todo crente - no exato momento em que crê - é justificado, libertado de toda forma de culpa, e feito justiça de Deus em Cristo. "Àquele que não conheceu pecado, (Deus) O fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Coríntios 5.21). E, sendo justificado, o crente tem paz - não paz em si mesmo, é importante ressaltar, mas paz por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Isto é, a paz que agora pertence ao crente é aquela paz com Deus que Cristo fez por meio de Seu sacrifício expiatório. E, uma vez que essa é a paz que Ele fez, o que ocorreu fora de nós, ela nunca poder variar ou ser alterada; ela é tão estável e duradoura quanto o trono de Deus; pois, como já vimos, é uma paz que Cristo fez pela Sua cruz; e o que Ele fez não poderá nunca ser desfeito, e é, portanto, uma paz eterna. E é esta paz, permanente, firme e eterna, que pertence a cada crente no Senhor Jesus.

Quando você se queixa de que não tem uma paz firme, na verdade deveria dizer que não está desfrutando de uma paz firme, e que seus sentimentos são instáveis. Por isso pode ser bom perguntar como é que o crente pode desfrutar de uma paz constante em sua alma. A resposta é muito simples: Pela fé. Se eu creio no testemunho de Deus de que a paz me pertence pela fé no Senhor Jesus, devo então entrar imediatamente no gozo dessa paz.

Isto pode ficar mais simples por meio de um exemplo. Suponha que alguém lhe traga a notícia de que um parente seu lhe deixou uma herança milionária. O efeito que isso produzirá em sua mente irá depender totalmente de você acreditar ou não naquilo que está ouvindo. Se você duvidar da veracidade daquela notícia, não haverá nenhuma reação a ela; mas se, por outro lado, ficar totalmente comprovado ser verdade, e você a receber de fato, então dirá imediatamente, "A herança é minha". Se você crê no testemunho de Deus de que foi feita paz pelo sangue de Cristo, nenhum sentimento de depressão, nenhum pensamento de ser indigno disso, nenhuma circunstância, qualquer que seja, poderá perturbar sua segurança a esse respeito, pois você verá que ela depende inteiramente daquilo que outro fez por você. Portanto, é necessário repousar com inabalável confiança na Palavra de Deus para poder desfrutar de uma paz firme.

A causa de tanta incerteza a respeito deste assunto advém principalmente de se olhar para dentro ao invés de olhar para fora, para Cristo - de olharmos para dentro em busca de algo que nos dê confiança de que esteja ocorrendo uma obra verdadeira de graça na alma, ao invés de olharmos para fora para percebermos que o único fundamento sobre o qual uma alma pode descansar diante de Deus é o precioso sangue de Cristo. A consequência é que, ao perceber a corrupção, este mal da carne, a alma começa a ter dúvidas e a cogitar se porventura não foi enganada. Satanás começa, dessa forma, a enredar o nosso coração e a semeá-lo com dúvidas e temores, na esperança de fazer com que duvidemos de Deus; isso quando não nos lança em total desespero. O modo eficaz de frustrarmos seus ataques neste sentido é apelando para a Palavra escrita de Deus. Em resposta a qualquer sugestão maligna devemos fazer como nosso bendito Senhor quando foi tentado: "Está escrito" (Mateus 4.4). Então, logo descobriremos que nada pode impedir que desfrutemos daquela paz com Deus que foi feita pelo precioso sangue de Cristo, e que passou a nos pertencer tão logo nós cremos.

Estando resolvida a questão do fundamento, e deixando de ocupar-se consigo mesmo, você encontrará descanso para sua mente e para sua alma - descanso suficiente para meditar sobre a verdade conforme é revelada nas Escrituras. "Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo" (1 Pedro 2.2). Quero dizer ainda que se você estudar a Palavra na presença do Senhor, será guiado por ela a uma intimidade de comunhão cada vez maior com Ele, e à medida que for descobrindo a infinita glória e perfeição de Cristo que nos são reveladas, e por nós assimiladas, por meio do Espírito de Deus, suas afeições serão atraídas em um sempre crescente fervor, e seu coração, agora satisfeito, irá transbordar em adoração aos pés dAquele que morreu por você. Deste modo o seu lamento se transformará em um hino de louvor.

Veja mais. Continue lendo na ordem:

Índice das 12 Cartas: Por favor continue lendo na ordem.


12 Cartas a um novo Convertido - 2ª Nosso Lugar Perante Deus


2ª Nosso Lugar Perante Deus



Prezado ________________________________:

Estou um pouco preocupado em pensar que você, que agora sabe que tem paz com Deus, e que deveria estar contente, venha a se acomodar, achando que essa bênção é tudo o que Deus proveu para você em Cristo. Muitos caem neste engano, e por conseguinte nunca compreendem a posição na qual foram introduzidos.

Permita-me, então, lembrá-lo de que, apesar da grandiosidade dessa bênção, a qual você dever estar desfrutando agora, os pensamentos e desejos de Deus a seu respeito vão infinitamente além disso. Posso tornar isto mais simples chamando a sua atenção mais uma vez para o fundamento. A base de tudo encontra-se na cruz de Cristo, pois foi ali que Ele pôde satisfazer, em nosso favor, tanto os requisitos exigidos pela santidade de Deus, como também glorificá-Lo em cada atributo de Seu caráter. É a isto que o Senhor Jesus Se referia quando disse: "Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer" (João 17.4). E foi com base nisso, como já tendo resolvido uma demanda de Deus, que Ele orou: "E agora glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela glória que tinha Contigo antes que o mundo existisse" (João 17.5).

Portanto, como você poderá perceber, Deus mostra a importância que deu à obra consumada na cruz, pelo fato de haver feito Cristo assentar à Sua direita. Podemos dizer ainda que nada menos do que isso poderia ter sido considerada uma resposta adequada à exigência de Deus que Cristo cumpriu através de Sua obra consumada. E certamente nada menos poderia ter satisfeito o coração de Deus; pois quem poderá jamais imaginar o Seu gozo ao intervir levantando Cristo de entre os mortos, colocando-O à Sua direita, e dando-Lhe, ainda, "um Nome que é sobre todo o nome"? "Pelo que também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um Nome que é sobre todo o nome; para que ao Nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai" (Filipenses 2.9-11).

Observe, então, com muito cuidado, estas três coisas: Primeiro, o lugar agora ocupado por Cristo na glória é fruto de Sua obra redentora; segundo, Cristo ocupa esse lugar como Homem; e, por conseguinte, terceiro, Ele está ali em favor dos que são Seus. As consequências são que Deus nos levará para o mesmo lugar; que a glória de Deus está empenhada em dar aos crentes o mesmo lugar de aceitação perante Si; e - isto mesmo! - que o Seu coração se compraz em reconhecer, também deste modo, a obra e o valor do Seu Filho amado. Portanto, todo crente encontra-se agora diante de Deus em virtude da eficácia da obra de Cristo, desfrutando ali de toda a aceitação que a própria Pessoa de Cristo desfruta. Deste modo, o crente desfruta de uma posição de perfeita proximidade de Deus, e é ainda objeto da perfeita bondade de Deus; pois ele é introduzido - e efetivamente está - na presença de Deus em Cristo Jesus.

Agora gostaria de levar você a examinar algumas passagens que comprovam plenamente as afirmações acima. O versículo que vem logo em seguida àquele que ocupou nossa atenção na última carta encaixa-se perfeitamente aqui. "Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo"; e então o apóstolo continua: "Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Romanos 5.1,2). Dessa forma, quando cremos, não somente temos paz com Deus, mas temos também acesso, por meio de Cristo, a esta graça na qual estamos firmes. Isto é, somos introduzidos no completo favor de Deus - transportados para a sempre radiante luz da Sua presença, onde podemos nos regozijar na esperança da glória de Deus - pois tudo já foi estabelecido e assegurado.

Por meio da fé em Cristo - e fé nAquele que ressuscitou Jesus nosso Senhor de entre os mortos - somos levados a uma posição tão perfeita e tão segura que, apesar das tribulações, dificuldades e perigos de nosso caminho por este deserto, podemos nos regozijar na esperança - na firme e inabalável perspectiva - da glória de Deus. Poderemos sofrer tribulações, como o apóstolo segue dizendo em sua carta, mas, se assim ocorrer, podemos nos gloriar até nas tribulações, "sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5.3-5).Foi esse o amor que Deus demonstrou ter, e nos deu; foi nesse mesmo amor que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. E se, sendo nós ainda pecadores, nos reconciliou com Deus pela morte de Seu Filho, quanto mais somos levados a concluir que seremos salvos - salvos completamente, inclusive com a redenção de nosso corpo (Romanos 8.23) - por Sua vida, a vida do Salvador ressurreto e assentado à direita de Deus. E não apenas isto, mas também nos regozijamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de Quem recebemos agora a reconciliação (Romanos 5.3-11). Sendo assim, temos como nossa presente porção o amor de Deus derramado em nossos corações, nos regozijamos nEle, ocupamos perante Ele um lugar de perfeito favor e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

Mas isso ainda não é tudo. Na mesma epístola, não apenas somos ensinados que nossa culpa se foi para sempre no exato momento em que cremos em Cristo, que somos justificados, etc., mas também nos é mostrado que somos totalmente transportados, por meio da morte e ressurreição de Cristo, a um novo lugar - um lugar fora de nossa carne, pois estamos "em Cristo" diante de Deus. A parte seguinte da epístola ou carta de Paulo, começando no versículo 12 deste capítulo e terminando no capítulo 8, fala deste assunto. Você irá notar, em primeiro lugar, que tudo tem início ou a partir de Adão ou a partir de Cristo, as duas cabeças; o primeiro homem Adão, e o segundo homem Cristo (Romanos 5.12-21). A consequência é que todos estão, ou em Adão, ou em Cristo, e é quase desnecessário dizer que a diferença entre estarmos em Adão ou em Cristo depende se ainda somos incrédulos ou se já somos crentes. Se, pela graça de Deus, somos crentes, então estamos em Cristo. Sendo assim, há certas consequências benditas que desejo indicar rapidamente, deixando então que você fique à vontade para meditar mais neste assunto.

A primeira coisa que o apóstolo nos lembra é que a posição em que nos encontramos - a posição que assumimos por meio de nosso batismo - demonstra que professamos estar mortos com Cristo, e isto, como pode ser observado em Colossenses 3.3, aplica-se a todos os crentes diante de Deus. Se você ler cuidadosamente o capítulo 6 de Romanos, irá logo perceber que o apóstolo incita a nossa responsabilidade sobre este fundamento. Portanto, o meu velho eu saiu da vista de Deus assim como aconteceu com os meus pecados, caso contrário o apóstolo não poderia ter afirmado, como o fez em Romanos 6.11: "Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor".

No capítulo seguinte ele ensina que "vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo" (Romanos 7:4), e isto, após discutir o efeito da aplicação da lei a alguém despertado pelo Espírito de Deus, abre o caminho para descortinar a presença constante do pecado na natureza e a total incompatibilidade entre a nova e a velha natureza (Romanos 7:13-25), o que nos leva a uma declaração completa da verdade com respeito ao crente. "Portanto", continua ele, "agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8.1), tão completa é a libertação, assim como o perdão, que temos em Cristo. "Vós, porém, não estais na carne, mas no espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós" (Romanos 8.9). Ele nos mostra, deste modo, que a posição do crente não é na carne, não no primeiro homem - Adão - mas o crente permanece diante de Deus em um lugar que é caracterizado como estando no Espírito. Isto é, o Espírito, e não a carne, caracteriza a existência do crente diante de Deus, pois na morte de Cristo a natureza má do crente também foi julgada; pois "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne" (Romanos 8.3). Assim, após apontar mais essas benditas consequências de sermos habitados pelo Espírito, o apóstolo declara que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho; a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8.28,29). Então ele pergunta: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Romanos 8.31), ao que responde lembrando que Deus, ao entregar o Seu Filho à morte por nós, provou-nos que também nos dará livremente todas as coisas. Isso leva o apóstolo à triunfante conclusão de que nada pode servir de acusação contra os eleitos de Deus; que se o próprio Deus os justificou, nada poderá condená-los; que se Cristo morreu e ressuscitou, estando bem à direita de Deus para interceder por nós, nada "nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (leia Romanos 8.31-39).

Portanto seria um grave erro você parar no capítulo 5 de Romanos, se quisesse conhecer a plenitude da graça de Deus e o tremendo caráter da salvação que Ele concede; pois a menos que leiamos até o capítulo 8 de Romanos, nunca saberemos o que é verdadeiro para nós e a nosso respeito diante de Deus - a completa e perfeita libertação que cada crente tem em Cristo, mesmo que ignore isso. É também da maior importância que você possa notar que essas bênçãos que foram assinaladas não estão associadas a nossos esforços para consegui-las. Tudo o que mostrei é a porção que possui todo aquele que clama "Aba, Pai"; a porção que pertence a cada recém-nascido em Cristo, quer ele saiba ou não.

Há ainda muita coisa além disso, e se você der uma olhada em Efésios eu lhe mostrarei, em poucas palavras - pois não tenho intenção de prolongar esta carta - o pleno caráter do lugar que o crente ocupa diante de Deus. Olhe, em primeiro lugar, para as maravilhosas expressões do primeiro capítulo: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, O qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em caridade [amor]; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor e glória da Sua graça, pela qual nos fez agradáveis a Si no Amado" (Efésios 1.3-6). Preste atenção em cada uma das sentenças que coloquei em realce e você verá como é perfeito o nosso lugar diante de Deus. Pois Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais...; e Seu propósito era que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor; e nos fez agradáveis a Si no Amado.

No capítulo seguinte (Efésios 2) temos a maneira como fomos introduzidos nos lugares celestiais. "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2.4-6). Aqui somos considerados como havendo estado mortos em pecados; Cristo é visto nesta epístola aos Efésios como tendo descido àquela condição - morto - como de fato ocorreu, no lugar do pecador. Deus, sendo rico em misericórdia e agindo segundo o Seu próprio coração de amor veio, em graça, e nos vivificou juntamente com Cristo. E então nos ressuscitou e nos fez assentar juntamente com Cristo nos lugares celestiais, o que significa que transportou-nos à Sua própria presença. Portanto, o nosso lugar atual - mesmo enquanto ainda estamos em nosso corpo - é agora nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Nada menos do que isso expressa a plenitude da Sua graça ou satisfaz o Seu coração.

Há mais uma passagem que gostaria de trazer a você antes de terminar: "Qual Ele é, somos nós também neste mundo" (1 João 4.17). Assim como Cristo é, ali à direita de Deus - a alegria e o gozo do coração de Deus - ali também em toda a perfeição da Sua Pessoa e em todo o doce aroma do Seu sacrifício, assim também somos nós neste mundo; pois estamos firmados não em nós mesmos, mas em Cristo, sendo, por esta razão, dotados de toda a aceitação e odor suave que Ele mesmo tem diante de Deus.

Que o Senhor nos conceda um maior reconhecimento do lugar no qual, por Sua inexprimível graça, fomos introduzidos em Cristo Jesus.

12 Cartas a um novo Convertido - 3ª Nosso Lugar Neste Mundo


Nosso Lugar Neste Mundo



Prezado _______:

Em minha última carta procurei mostrar a você nosso lugar - como crentes - diante de Deus; e agora gostaria de dirigir sua atenção para nosso lugar aqui neste mundo; e veremos, creio eu, que isto também está ligado a Cristo. Assim como é certo que estamos identificados com Cristo diante de Deus no que se refere à nossa posição, estamos também identificados com Cristo diante do mundo. Em outras palavras, somos colocados em Seu lugar aqui, assim como estamos nEle diante de Deus; e tenho certeza de que seria de muito proveito se tivéssemos esta verdade continuamente diante de nossa alma. Há, porém, dois aspectos que se referem ao nosso lugar nesta Terra e é importante que ambos sejam bem compreendidos. O primeiro aspecto está relacionado com o mundo e o segundo com o "arraial", isto é, o cristianismo organizado de nossos dias, que nesta dispensação tomou o lugar do judaísmo como testemunho de Deus. Leia Romanos 11 e compare com o capítulo 13 de Mateus.

1. Nosso lugar em relação ao mundo. O Senhor Jesus, dirigindo-se aos judeus, disse: "Vós sois de baixo, Eu sou de cima; vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo" (João 8.23). Mais tarde, quando apresentava ao Pai os que eram Seus, disse: "Não são do mundo, como Eu do mundo não sou" (João 17.16), e se você ler do versículo 14 ao 19 verá que Ele coloca Seus discípulos na posição que Ele mesmo ocupa perante o mundo, do mesmo modo como, do versículo 6 ao 13, Ele os coloca na mesma posição que Ele ocupa diante do Pai. Você deve notar ainda que os discípulos ocupam a posição do Senhor neste mundo porque não são daqui, assim como o Senhor não era, pois após terem nascido de novo não pertencem mais a este mundo. Por isso Ele menciona continuamente que Seus discípulos teriam de enfrentar o mesmo ódio e perseguição que Ele vinha experimentando. Assim, dando um exemplo, Ele diz: "Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa" (João 15.18-20). O apóstolo João indica ainda o total contraste entre os crentes e o mundo, quando diz: "Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno" (1 João 5.19).

Há, porém, muito mais do que nos é mostrado nestas importantes passagens. Cada crente é visto por Deus como tendo morrido e ressuscitado com Cristo (leia Romanos 6 e Colossenses 3.1-3). Do ponto de vista de Deus, o crente é assim transportado, através da morte e ressurreição de Cristo, completamente para fora do mundo, da mesma forma como Israel foi levado para fora do Egito através do Mar Vermelho. Portanto ele não pertence mais ao mundo, embora seja enviado ao mundo como representante de Cristo (leia João 17.18). Por isso o apóstolo Paulo podia dizer, enquanto estava ativo no serviço para Cristo neste mundo, "longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gálatas 6.14). Pela cruz de Cristo ele viu que o mundo já estava julgado (leia João 12.31), e pela aplicação da cruz em si próprio ele considerava-se como morto - crucificado para o mundo - de modo a deixar bem clara a separação que existia entre si mesmo e o mundo; uma separação tão completa como a que é ocasionada pela morte.

De tudo isso podemos ver que o cristão, embora estando no mundo, não pertence a ele - Ele não é do mundo no mesmo sentido em que Cristo não pertencia ao mundo. O crente pertence a uma outra esfera - pois se alguém está em Cristo é nova criatura; como já foi visto, ele foi transportado perfeitamente limpo para fora deste mundo por meio da morte e ressurreição de Cristo. Por isso o cristão deve estar completamente separado do mundo; não deve conformar-se a ele em seu espírito, hábitos, conduta, modo de andar, enfim, em tudo o crente deve mostrar que não é deste mundo (leia Gálatas 1.3,4 e Romanos 12.2). E deve, ainda, pela aplicação da cruz, manter-se como crucificado para o mundo. Nenhuma atração ou assimilação pode existir entre duas coisas que já foram julgadas. Portanto, o crente está no mundo no lugar de Cristo, isto é, está aqui por Cristo e é identificado com Cristo. Consequentemente deve testemunhar de Cristo, andar como Cristo andou, e esperar receber o mesmo tratamento que foi dado a Ele (leia Filipenses 2.15 e 1 João 2.6). Não é que esperamos ser crucificados como Cristo foi, mas se formos fiéis iremos encontrar no mundo o mesmo espírito de oposição que Ele encontrou. Na verdade, a medida de semelhança de Cristo que trouxermos em nossa vida será a medida da nossa perseguição. E pode-se dizer que o fato dos crentes encontrarem hoje tão pouca oposição do mundo demonstra o quão pouco estão separados dele.

Antes de passar para o outro aspecto deste assunto, não posso deixar de rogar-lhe insistentemente que rompa todo e qualquer vínculo que o esteja ligando moralmente com este mundo. Não é preciso muito discernimento para se perceber que o espírito deste mundo, o mundanismo, está introduzindo-se sorrateiramente, porém com rapidez, nas igrejas ou assembléias e manifestando-se com jactância até mesmo na mesa do Senhor. Que golpe e que desonra para Aquele, cuja morte nos reunimos para recordar! E que solene advertência recai sobre os santos para que nos humilhemos perante Deus, buscando renovada graça a fim de sermos mais fervorosos e mais separados do mundo; para que fique evidente que pertencemos a Cristo, a Quem o mundo rejeitou, lançou fora e crucificou! Quantos de nós têm o espírito de Paulo, que desejava a "comunicação de Suas aflições, sendo feito conforme à Sua morte" (Filipenses 3.10), tendo em vista o Cristo glorificado como objeto de sua afeição e alvo de todas as suas aspirações? Que o Senhor possa restaurar em nós, e em todos os Seus amados santos, mais dessa devoção a Ele, em completa separação deste mundo.

2. Nosso lugar em relação ao "arraial". Na epístola aos Hebreus, lemos: "Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério" (Hebreus 13.11-13). Há duas coisas bem evidentes nesta passagem - o sangue da oferenda pelo pecado era levado para dentro do santuário, e os corpos dos animais que haviam sido sacrificados eram queimados fora do arraial. O apóstolo mostra que estas duas coisas tinham seus correspondentes na morte de Cristo, que é o antítipo daqueles sacrifícios. Temos, assim, a dupla posição ocupada pelo crente - seu lugar diante de Deus no interior do santuário, para onde o sangue era levado, e seu lugar na Terra fora do arraial ou acampamento, onde Cristo sofreu. Em outras palavras, como já foi explicado, se estamos em Cristo diante de Deus, identificados com Ele ali em todo o aroma de Sua própria aceitação, estamos também identificados com Ele sobre a Terra, ocupando o Seu lugar de vergonha, reprovação e rejeição. O lugar do crente sobre a Terra é fora do arraial; como diz o autor desta epístola: "Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério" (Hebreus 13.13).

Talvez você esteja perguntando: "O que é o arraial?". Na passagem que acabei de citar, fica claro, a partir do contexto todo, que trata-se do judaísmo. A que, então, se aplicaria isso em nossos dias? O judaísmo provinha de Deus e ocupava o lugar de testemunho dEle neste mundo. O judaísmo falhou e foi posto de lado depois do Pentecostes, quando, diante da pregação dos apóstolos, ocorreu a rejeição final de Cristo. O cristianismo tomou então o lugar do judaísmo como o testemunho de Deus neste mundo, conforme nos ensina o capítulo 11 de Romanos. Portanto, o "arraial" em nossos dias é o cristianismo organizado, a igreja professa, que inclui todas as denominações, desde o corrupto Catolicismo Romano até as menores seitas do Protestantismo. É possível que, neste ponto, você pergunte: "Baseados em quê somos exortados a sair fora desse arraial?" Baseados em sua completa ruína como testemunho de Deus sobre a Terra. "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Apocalipse 2.11). É nossa responsabilidade - e até mesmo nossa segurança - analisarmos tudo o que se diz como vindo de Deus, usando para isso a Palavra escrita. Se usarmos o mesmo critério para provar todas as denominações, todas elas se mostrarão culpadas de fracasso e desobediência. Portanto, nada mais resta ao crente que deseja atuar de acordo com o pensamento de Deus senão tomar o seu lugar fora de tudo isso, apartado da confusão e dos erros de nossos dias maus, seguindo adiante com os que estão congregados simplesmente ao nome de Cristo em obediência à Sua Palavra. O capítulo 33 de Êxodo é muito instrutivo a esse respeito. Quando Moisés desceu do monte (capítulo 32), viu que todo o arraial havia caído em idolatria, e depois de haver retornado de sua intercessão a favor de Israel, trouxe uma "má notícia" para o povo (leia Êxodo 33.4). Então, "tomou Moisés a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação: e aconteceu que todo aquele que buscava o Senhor saiu à tenda da congregação, que estava fora do arraial" (Êxodo 33.7). Moisés agiu assim porque agia de acordo com o pensamento do Senhor em vista do fracasso do povo, e vemos nesta cena um exemplo moral para nossos dias. Peço a você que considere este assunto cuidadosamente.

Creio que já escrevi o suficiente para levá-lo a compreender o lugar do crente neste mundo. Por um lado deve estar em separação do mundo e por outro lado deve estar fora do arraial. Tomar uma posição assim irá fazer com que sejamos odiados pelos que estão no mundo e reprovados pelos que permanecem no arraial. Mas, se assim acontecer, estaremos ainda mais identificados com nosso bendito Senhor. Em Hebreus 13.13 isto é chamado de "Seu vitupério", que significa vergonha ou desonra. Que jamais desejemos fugir do ódio do mundo, nem evitar a vergonha fora do arraial, mas que possamos nos regozijar quando formos considerados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus! (leia Hebreus 11.38 e Atos 5.41).

12 Cartas a um novo Convertido - 4ª O Corpo de Cristo


O Corpo de Cristo

Prezado _______:

Existe outra questão, que agora exige sua atenção, relacionada ao corpo de Cristo. No dia de Pentecostes ocorreu algo completamente novo no desenrolar dos desígnios de Deus - a vinda do Espírito Santo. Até aquele período o Espírito Santo agia neste mundo, pois em todas as dispensações passadas houve almas vivificadas e "homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1.21). Mas até o Senhor Jesus ter sido glorificado à direita de Deus, o Espírito Santo, como uma Pessoa divina, não estava neste mundo. Isto não se trata de uma nova teoria, mas é um assunto claramente estabelecido nas Escrituras. Assim, quando no grande dia da Festa dos Tabernáculos, "Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios d'água viva correrão do seu ventre", é explicado que falava "do Espírito que haviam de receber os que nEle cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado" (João 7.37-39). O próprio Senhor acrescentou no mesmo sentido: "Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que Eu vá; porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós" (João 16.7; compare com João 14.16,17, 26 e 15.26). Passando mais adiante, em Atos 2, encontramos o registro histórico da descida do Espírito de Deus: "E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (Atos 2.1-4). Assim se cumpriram as palavras que o Senhor falou aos Seus discípulos após a Sua ressurreição: "vós sereis batizados com o Espírito Santo; não muito depois destes dias... Mas recebereis a virtude [ou poder] do Espírito Santo, que há de vir sobre vós" (Atos 1.5,8).

Foi pela descida do Espírito Santo que a Igreja foi formada - a Igreja de Deus conforme é encontrada no Novo Testamento - e desde então ela existe em dois aspectos: como a casa de Deus (1 Timóteo 3.15) e como o corpo de Cristo (Efésios 1.22,23). É o segundo aspecto da Igreja que desejo trazer diante de você nesta carta, e há dois versículos que nos capacitarão a compreender isto. Em Colossenses 1.18 lemos que "Ele é a cabeça do corpo da Igreja"; e em 1 Coríntios 12.13, "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres". Isto parece indicar que no dia de Pentecostes, pela vinda do Espírito Santo, os crentes foram batizados em um corpo, e que assim foi formado o corpo de Cristo. Mas, permita-me perguntar, de que, ou de quem, é composto o corpo de Cristo? "Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também" (1 Coríntios 12.12). O termo "Cristo", conforme é usado aqui, inclui o próprio Cristo e todos os membros do corpo, vistos como um todo. Portanto o corpo de Cristo inclui a Ele próprio, como a Cabeça, e a todos os crentes sobre a face da Terra, nos quais o Espírito Santo veio habitar. Como consequência, cada filho de Deus que pode clamar "Aba, Pai" é um membro do corpo de Cristo e, por esta razão, o apóstolo diz que "somos membros do Seu corpo" (Efésios 5.30).

Este é um ponto para o qual desejo chamar sua atenção, pois um grande número dos amados filhos de Deus ignoram que ocupam esta maravilhosa e privilegiada posição. Por ocasião de uma visita que fiz há algum tempo a um crente prestes a morrer, perguntei-lhe: "Sabe que você é um membro do corpo de Cristo?". Sua resposta foi: "Não, jamais ouvi coisa semelhante". Tão cedo não vou me esquecer do gozo que expressavam as feições daquele moribundo à medida que eu ia expondo as Escrituras que falam deste assunto. Permita-me, então, pedir-lhe que considere o que significa ser um membro do corpo de Cristo. Primeiro, e o mais importante, nos ensina que estamos unidos a Cristo - a Cristo como Homem glorificado à direita de Deus. E uma vez que Ele é a cabeça do corpo, cada membro está de uma forma vital, e podemos até mesmo dizer organicamente, ligado a Ele. "O que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito" (1 Coríntios 6.17). Veja, portanto, até onde vai a graça de nosso Deus! Se não bastasse o fato de nossos pecados terem sido perdoados; de estarmos justificados pela fé; de termos sido introduzidos no claro e perfeito favor de Deus; de estarmos ressuscitados com Cristo; de estarmos assentados nEle nos lugares celestiais; mesmo possuindo tanto, a despeito de estarmos cercados de fraqueza e enfermidade neste mundo, nos é dado saber que estamos unidos a Cristo na glória! Podemos elevar nossos olhos a Ele na glória, onde Ele está, e dizer com toda a segurança: "Somos membros do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos!" (Efésios 5:3 - Versão Almeida Corrigida Fiel).

Se os crentes conhecessem esta verdade em poder, como poderia haver discussões quanto à certeza da nossa salvação aqui e agora? E, quando tivéssemos que enfrentar novas provas ou perigos, cada vez maiores, que força nos daria se tivéssemos sempre em mente esta verdade: Estamos unidos a Cristo! E, oh! que revelação isto nos dá da proximidade e intimidade que possuímos com Ele! Pois nos foi dado conhecer que somos um com Ele próprio; que tudo o que nos atinge, atinge a Ele também (leia Atos 9.4). Estamos, portanto, inseparavelmente, indissoluvelmente ligados a Ele para todo o sempre.

Em segundo lugar, nos é ensinado que sendo membros do corpo de Cristo, somos também membros uns dos outros, e é essencial que aprendamos esta verdade se quisermos entender o caráter de nosso parentesco com todos os filhos de Deus. Assim, o mesmo vínculo que nos une a Cristo, nos une também a todos os crentes; pois o mesmo Espírito que nos une a Cristo nos uniu também uns aos outros. É isto que significa a "unidade do Espírito" (Efésios 4.3), ou seja, a unidade de todos os membros de Cristo, que foi formada nesta Terra pelo Espírito de Deus.

Se agora você abrir em 1 Coríntios 12, verá o maravilhoso caráter do nosso mútuo parentesco, decorrente do fato de sermos membros uns dos outros. Você pode ler do versículo 12 ao 27 para sua meditação e enquanto isso assinalarei os importantes pontos que são ali ensinados. Em primeiro lugar, é deixado bem claro que "o corpo não é um só membro, mas muitos"; e que cada membro tem o seu próprio lugar no corpo. Sendo assim, o apóstolo pergunta: "Se o pé disser: porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo?". E então ele toma o cuidado de mostrar que o lugar peculiar que cada um ocupa no corpo é o resultado do ato soberano de Deus, além de nos exortar a não nos esquecermos que, embora sendo muitos membros, há um só corpo (1 Coríntios 12.14-20). Como seria fácil para alguém ampliar este assunto acrescentando seus próprios pensamentos, se não tivéssemos mais nenhuma instrução a respeito. Mas quero apenas chamar sua atenção aqui para dois pontos: nossa obrigação ou responsabilidade em reconhecer, primeiramente, a diversidade de membros (v. 14) e, em segundo lugar, a unidade do todo (v. 29). E me atrevo a acrescentar que é impossível guardar uma coisa ou outra, a menos que você esteja congregado fora do arraial, separado de todas as denominações e sistemas humanos, para o nome de Cristo somente. Em segundo lugar, está claro que cada membro do corpo necessita de todos os outros membros, pois "o olho não pode dizer à mão: não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: não tenho necessidade de vós", e o apóstolo continua nos ensinando que "Deus assim formou o corpo... para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros" (1 Coríntios 12.21-25). Somos, então, lembrados de que o parentesco entre os membros é tão íntimo que "se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele" (1 Coríntios 12.26).

Por estas passagens das Escrituras você poderá entender que a expressão "o corpo de Cristo" não se trata de uma mera figura de linguagem, como muitos a consideram, mas expressa uma realidade - a pura realidade de nossa união com Cristo, bem como de nossa união uns com os outros. E estou certo de que você entenderá que nossa responsabilidade para com Cristo, como a Cabeça do corpo, e nossa responsabilidade para com os outros membros não poderá ser compreendida, e muito menos manifestada, se esta verdade for menosprezada ou ignorada. Mas, por outro lado, quando ela é conhecida, temos não somente o gozo de uma união consciente com Cristo, como podemos nos regozijar em nossa união - nossa indissolúvel união - com todos os membros do Seu corpo em todas as partes do mundo.

Isto nos leva a resultados bastante práticos. Por exemplo, se alguém me diz que devo filiar-me a qualquer uma das denominações existentes, imediatamente respondo que não posso fazer algo que negue - e claramente nega - esta preciosa verdade. "Você me pede", eu diria "para me unir a um determinado grupo de cristãos que estão em comum acordo em determinadas coisas; mas eu já estou unido a todos os crentes, e preciso de todos; não posso, portanto, aceitar uma base de união que exclua qualquer um deles". Até mesmo se me convidassem para me unir a um certo número de cristãos que não levassem em conta as barreiras denominacionais (geralmente conhecidos como "interdenominacionais" - N. do T.), eu responderia: "Sou um membro do corpo de Cristo e, portanto, não posso estabelecer qualquer base de união diferente daquela que é o corpo. Ou permaneço na base que Deus estabeleceu ou não permaneço em base nenhuma". Sendo assim, enquanto eu não conhecer a verdade do corpo de Cristo, não poderei compreender o lugar que Deus gostaria que eu ocupasse neste mundo.

Mas agora deixo este assunto para sua meditação, pois estou certo de que se você buscar nas Escrituras, na dependência do Senhor, Ele irá guiá-lo, pelo Seu Espírito, para que você conheça a Sua vontade a este respeito. Em minha próxima carta, se Deus quiser, apresentarei a você outro assunto que está intimamente ligado a este, ou seja, o que se refere à mesa do Senhor.


12 Cartas a um novo Convertido - 5ª A Mesa do Senhor


A Mesa do Senhor

Prezado _______:

A questão da mesa do Senhor é, com frequência, um assunto que confunde o filho de Deus. Pois ele encontra ao redor de si não apenas muitas mesas, estabelecidas sobre diferentes bases, mas, quando começa a investigar este assunto, encontra tantas teorias quantas forem as mesas, no que diz respeito ao significado da ceia à qual ele é convidado a participar. Portanto, a única forma de ele evitar o erro e ser achado em obediência ao seu Senhor, é tapar os ouvidos à confusão de vozes dos teólogos e acatar o ensino claro e inequívoco da Palavra de Deus. E é a isto que desejo guiá-lo nesta carta.

Como era de se esperar, não há nada que esteja faltando com respeito a este tema nas Escrituras. Sendo assim, o capítulo 10 de 1 Coríntios explica o caráter da mesa e o capítulo 11 nos dá o caráter da ceia e a maneira como ela deve ser celebrada.

Vamos considerar primeiro a questão da mesa. "Porventura o cálice da bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo: porque todos participamos do mesmo pão" (1 Coríntios 10.16,17). Está claro que esta passagem ensina duas coisas: em primeiro lugar, que o pão sobre a mesa é o símbolo do corpo de Cristo ("Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo" - veja também 1 Coríntios 12.13); e em segundo lugar, que somos participantes dele como membros deste corpo ("porque todos participamos do mesmo pão"). Por conseguinte, assim como temos a comunhão do sangue de Cristo por meio do vinho, também temos a comunhão do corpo de Cristo por meio do pão, quando participamos da ceia em conformidade com os pensamentos de Deus. A mesa é assim a expressão da unidade do corpo de Cristo; e, consequentemente, somente os membros deste corpo podem estar apropriadamente reunidos em torno dela. Por estranho que possa parecer, a "igreja" da Inglaterra concorda com este princípio, pois não admite à sua mesa alguém que não tenha sido batizado, e ela declara que cada pessoa batizada é transformada em "um membro de Cristo". O erro, como pode ver, está em atribuir ao batismo (como meio) aquilo que só pode ser produzido pelo Espírito de Deus. Menciono este caso apenas para mostrar a você que o princípio aqui anunciado, longe de ser algo peculiar, é largamente aceito.

Ora, é pela aplicação deste princípio que você pode identificar qual, de todas mesas ao seu redor, é a mesa do Senhor. Aplique este teste em cada mesa denominacional e qual será o resultado? Você logo irá perceber que nenhum sistema sectário pode ter a mesa do Senhor, pois a base sobre a qual uma mesa denominacional é estabelecida, em todos os casos, não abrange todo o corpo de Cristo. Mesmo se, por um momento apenas, admitíssemos a hipótese de que todos os seguidores de uma determinada denominação fossem membros do corpo de Cristo, teríamos ainda que perguntar: "Existem outros membros do corpo fora dessa denominação?" Se existirem, então tal mesa não é a mesa do Senhor, por mais sincera, consciente e piedosa que possa ter sido a forma como foi estabelecida. Porém alguns poderiam responder: "Mas estamos abertos para receber a todos os outros membros do corpo de Cristo". Mesmo assim eu diria que isso não altera a situação, pois a base adotada determina o caráter da mesa que sobre ela é estabelecida; e a base adotada em qualquer denominação é de um caráter tal que muitos cristãos fiéis não poderiam estar em comunhão nessa mesa. Por exemplo, os dissidentes (nome dado pela igreja Anglicana aos outros Protestantes) são excluídos, por questão de consciência, da mesa da "igreja" Anglicana; e os Anglicanos são igualmente excluído das mesas dos dissidentes. Sendo assim, em nenhum desses lugares poderá ser identificada a mesa do Senhor, já que a base adotada para a comunhão é outra, e não aquela do corpo de Cristo.

Mais uma vez, experimente testar as mesas dos sistemas que se dizem não-sectários usando o mesmo princípio. Talvez você me diga que conhece um lugar onde toda a questão denominacional é repudiada e onde é ensinado que todos os cristãos devem estar unidos apenas como cristãos. Muito bom, mas ainda assim eu teria algumas perguntas a fazer. Eu perguntaria: Estão os crentes reunidos naquele lugar somente para o nome de Cristo? Existe liberdade para o Espírito ministrar por intermédio de quem Ele desejar? É exercida a disciplina para que haja santidade? Pois o Senhor não pode aprovar coisa alguma que esteja em desacordo com as Escrituras - qualquer coisa que não seja condizente com o caráter do Seu próprio nome. Se estas perguntas puderem ser respondidas afirmativamente, então você talvez possa concluir que encontrou a mesa do Senhor. Caso contrário, por mais atraente e correta que possa ter parecido a uma primeira análise, você deve rejeitá-la como estando na mesma situação daquelas estabelecidas pelos sistemas denominacionais.

Acredito que se acrescentarmos mais algumas características da mesa do Senhor, isto servirá para guardá-lo do erro: 1. A mesa deve estar estabelecida sobre uma base fora de todos os sistemas denominacionais, caso contrário, como já vimos, ela não estará abrangendo todos os membros do corpo de Cristo. 2. Os santos deverão estar reunidos em torno da mesa no primeiro dia da semana, pois assim lemos: "E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão" (Atos 20.7), o que é uma prova inquestionável de que era este o costume dos primeiros cristãos. Veja também em João 20 como nosso bendito Senhor, em duas ocasiões após Sua ressurreição, escolheu o primeiro dia da semana para Se apresentar no meio de Seus discípulos reunidos (versículos 19 e 26), consagrando, por assim dizer, esse dia para a assembléia proclamar Sua morte. 3. O propósito da reunião deve ser o partir do pão. Chamo sua atenção para este ponto, pois em muitos lugares existem mesas postas semanalmente, mas que encontram-se subordinadas a outras atividades tais como pregação, etc. 4. Tudo aquilo que estiver em conexão com a mesa - adoração, ministério e disciplina - deve estar de acordo com a Palavra de Deus e em completa sujeição a ela. Se houver qualquer indício de regras humanas, sejam quais forem os motivos pelos quais tenham sido adotadas, o caráter da mesa estará arruinado. Pois a mesa é do Senhor e, portanto, somente a Sua autoridade deve ser reconhecida pelos Seus santos reunidos.

Devo acrescentar algo mais? Sim, pois há um ou dois perigos que gostaria de assinalar. O primeiro é a indiferença. Há alguns dias perguntei a uma cristã se ela estava na mesa do Senhor. Entendendo a que me referia, ela respondeu: "Não desejo preocupar-me com tais assuntos, pois para mim é suficiente saber que Cristo é meu Salvador". Poderia algo ser mais triste? Como se não fosse tão importante conhecer a vontade do Senhor! Pois você pode ter certeza de que se Ele tem indicado a Sua vontade sobre este assunto, deveria ser um gozo para nós podermos averiguá-lo e sermos encontrados a andar em obediência também nisto. Outra pessoa me respondeu de um modo diferente: "Não cabe a mim julgar aqueles com os quais me reúno, e quero ter comunhão com todos eles". "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Apocalipse 2.7 - Leia os capítulos 2 e 3 de Apocalipse). Somos chamados a julgar a maneira de agir daqueles com os quais mantemos comunhão - e até mesmo das "igrejas" - medindo tudo pela Palavra e rejeitando aquilo que ela não nos ordene fazer, ou que seja condenado por ela. A indiferença é o espírito de Laodicéia e a resposta do Senhor a isso é: "Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca" (Apocalipse 3.16). Outro perigo é o da associação. Veja, por exemplo, quantos recém convertidos são atraídos àquilo que é contrário aos pensamentos do Senhor devido a vínculos de amizade, parentesco ou religião! Acabam sendo guiados pelas opiniões de seus amigos ao invés de o serem pela Palavra de Deus. Também é comum encontrarmos aqueles que, por terem se convertido ao Senhor ou recebido uma bênção em determinado lugar, desejam permanecer onde a bênção foi recebida. Mas, qualquer que seja o caso, a pergunta que sempre deveria ser feita é: "Senhor, que queres que faça?" (Atos 9.6). Caso contrário, mesmo que o crente tenha o mais sincero desejo de fazer o que o Senhor ordenou, lembrando-O em Sua morte, estará fazendo de uma maneira que realmente desagrada ao Senhor.

Ao chamar a sua atenção para estes perigos, quero lembrá-lo de que é muito melhor esperar do que participar da ceia do Senhor em desobediência. Portanto, antes de buscar o seu lugar à mesa do Senhor recorra às Escrituras, pedindo a direção do Senhor; e "se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz" (Mateus 6.22). Deixarei o assunto da ceia para a próxima carta.


12 Cartas a um novo Convertido - 6ª A Ceia do Senhor


A Ceia do Senhor

Prezado _______:

Nunca devemos nos esquecer de que podemos estar à mesa do Senhor e, no entanto, falharmos completamente ao participar da ceia do Senhor. Os Coríntios estavam reunidos para o nome de Cristo; reuniam-se semana após semana em torno da mesa do Senhor, e ainda assim o apóstolo Paulo, ao escrever a eles, diz: "Quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor" (1 Coríntios 11.20). Eles haviam caído em tal desordem, pelo egoísmo e pelo descaso para com a importância da ceia, que acabaram fazendo desta solene ocasião uma oportunidade para se banquetearem. A ceia que comiam era, portanto, a ceia deles próprios e não a Ceia do Senhor, pois haviam quase que completamente deixado de associar o pão e o vinho ao corpo e sangue de Cristo. Daí a solene admoestação: "Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo" (1 Coríntios 11.22). O apóstolo prossegue explicando o verdadeiro caráter da ceia e nos diz que havia recebido do Senhor uma comunicação especial acerca deste assunto. É importante prestarmos atenção a isto, uma vez que o apóstolo recebeu esta comunicação em conexão com seu ministério do corpo de Cristo (Colossenses 1.24,25), e já que esta é a última comunicação acerca do assunto, é a esta passagem, mais do que aos evangelhos (os quais, no entanto, relatam a instituição da ceia na noite da páscoa), que recorremos para expor o seu significado.

Quem poderia deixar de ser tocado pela grandiosa graça que é expressa nas palavras de abertura deste relato: "O Senhor Jesus na noite em que foi traído, tomou o pão" (1 Coríntios 11.23). Que contraste entre o coração do homem e o coração de Cristo! Prestes a ser traído por um de Seus discípulos, "Ele tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei: isto é o Meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de Mim" (1 Coríntios 11.23, 24).

O pão é, portanto, um símbolo do corpo do Senhor Jesus que foi entregue em favor dos Seus - entregue à morte por eles, por nós, por todos os que crêem - sobre a cruz; e quando comemos estamos fazendo isso para recordá-Lo. Se prestássemos mais atenção à expressão "em memória" evitaríamos cair em muitos erros. Nós recordamos algo que já aconteceu, isto é, trazemos isso de volta à memória. Assim, quando comemos o pão na ceia do Senhor, trazemos à memória que o Senhor um dia esteve morto; lembramo-nos dEle naquela ocasião - na condição de morte - à qual Ele desceu, quando carregou nossos pecados sobre o Seu próprio corpo no madeiro - quando suportou toda a ira que nós merecíamos, glorificando a Deus até no que diz respeito ao nosso pecado. Portanto, quando partimos o pão, não nos lembramos de Cristo em Sua condição atual, mas de Cristo na condição em que estava.

O cálice também expressa o mesmo. "Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento [aliança] no Meu sangue: fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de Mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha" (1 Coríntios 11.25, 26). Portanto o vinho que tomamos é um símbolo do sangue de Cristo; e isto por si só já nos fala de morte, já que não podemos pensar em sangue separado do corpo exceto como uma expressão de morte. O versículo 26 dá ênfase à verdade de que tanto ao comermos do pão quanto ao bebermos do cálice, estamos expressando, anunciando, ou proclamando, a morte do Senhor. Não podemos deixar de insistir com veemência sobre o fato de que na ceia do Senhor voltamos o nosso olhar para o passado, para um Cristo morto; tomamos a ceia como recordação de que um dia Ele esteve morto - morto sobre a cruz e morto na sepultura. Pois Ele, que não conheceu pecado, não somente carregou os nossos pecados, como também foi feito pecado, para que fôssemos feitos justiça de Deus nEle (2 Coríntios 5.21). Note bem que nem mesmo se trata de um Cristo morrendo, mas de um Cristo morto - não se trata de um Cristo morrendo, uma contínua repetição de Seu sacrifício, como muitos erroneamente ensinam, mas de um Cristo morto; "Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados" (Hebreus 10.14).

Portanto, este é o único pensamento que deveria estar diante de nossa alma à mesa do Senhor. Que simplicidade - porém quão bem planejada para tocar nosso coração e levá-lo a prostrar-se diante dEle em adoração. Quando nos sentamos ao redor da Sua mesa, comemoramos a Sua morte! Ora, o apóstolo mostra que se é um Cristo morto, quem foi que morreu? É impossível encontrarmos outras duas palavras que, juntas, pudessem expressar isto tão bem quanto "a morte do Senhor". Quantas coisas estão envolvidas no fato de que Ele, que é chamado o Senhor, morreu! Que amor! Que propósitos! Que eficácia!... E que resultados! O Senhor Se entregou por nós. Celebramos a Sua morte.

Observe que é "até que venha" (1 Coríntios 11.26b). Portanto, enquanto olhamos para trás, para a cruz, somos levados a lembrar de Sua vinda em glória, para nos receber para Si; o merecido fruto do Seu trabalho e de Sua morte. Assim não podemos nunca nos esquecer de que nossa completa redenção, sendo feitos "conformes à imagem de Seu Filho" (Romanos 8.29), é o resultado da morte de Cristo. Pois as duas coisas, a cruz e a glória, estão aqui indissoluvelmente ligadas.

Tal é, portanto, o significado da ceia e como você poder perceber o apóstolo nos dá avisos solenes quanto a negligenciarmos a sua importância. "Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se pois o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação (ou seu próprio juízo), não discernindo o corpo do Senhor" (1 Coríntios 11.27-29). Não se questiona aqui se somos dignos de participar da ceia do Senhor; mas o que o apóstolo condena é participar de uma maneira indigna. Todo cristão, a menos que tivesse sido excluído por algum pecado, era digno de participar, por ser um cristão. Mas podia acontecer de um cristão ir à ceia sem julgar-se a si mesmo, ou sem apreciar, como deveria, aquilo que a ceia trazia ao seu pensamento e o fato de Cristo estar ligado a ela. Ele não estaria discernindo o corpo do Senhor, além de não discernir e não julgar o mal em si próprio. E se assim comesse e bebesse, estaria comendo juízo para si, isto é, traria disciplina sobre si próprio, pois o Senhor julga o Seu povo e os repreende para que não sejam condenados com o mundo (1 Coríntios 11.32). Assim Ele puniu os Coríntios por sua negligência - alguns com fraqueza, outros com enfermidades, e alguns até mesmo com a morte do corpo (1 Coríntios 11.30). Daí a necessidade de nos examinarmos quanto à maneira como participamos da ceia do Senhor, e de julgarmos tudo aquilo que for descoberto como sendo impróprio na presença dEle; "Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados" (1 Coríntios 11.31), isto é, se aplicássemos um juízo próprio não seríamos corrigidos pelo Senhor.

De tudo o que foi falado, fica claro que não estamos qualificados para a mesa do Senhor até que fique definida a questão de nosso relacionamento com Deus - ou, em poucas palavras, até que tenhamos paz com Deus. Pois se estou ocupado com o meu ego, com meu próprio estado de espírito, com dúvidas, ansiedades ou temores, não posso estar ocupado com a morte de Cristo. Com frequência, muito dano é causado por se receber cedo demais as almas à mesa do Senhor. Pois quando vêm antes de terem paz com Deus, olham para a mesa como se fosse um meio de se obter graça e, uma vez que na ceia é a morte de Cristo que é colocada diante delas, tornam-se infelizes e angustiadas por não conhecerem o valor daquela morte para si próprias. Pelo menos até que haja paz de consciência pelo poder do sangue de Cristo, a alma não se encontra em liberdade, não se encontra à vontade para contemplar a morte de Cristo.

Volto a repetir. Quando nos encontramos à mesa do Senhor, não é para estarmos ocupados com os benefícios que recebemos pela morte de Cristo. Mas é para entrarmos, pelo poder do Espírito, nos pensamentos de Deus a respeito da morte de Seu amado Filho. Pois estamos ali como adoradores e, como tais, no interior e além do véu rasgado (Mateus 27.51; Hebreus 10.20). E, uma vez lá, ficamos absortos com o fato de que o próprio Deus foi glorificado na morte de Cristo e, em comunhão com Ele, pensamos no que Cristo foi para Deus; nunca tão precioso aos olhos de Deus como naquele terrível momento em que foi feito pecado e, a fim de glorificar a Deus, suportou tudo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Então, com o coração transbordando, somos capacitados, pelo Espírito, a extravasar o nosso louvor e adoração. Que tremendo pensamento, podermos ser admitidos a contemplar, juntamente com Deus, o Seu Cristo sendo lançado no pó da morte, com todas as ondas e vagas de Deus passando sobre Ele! E à medida que O contemplamos não podemos deixar de clamar: "Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai: a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém" (Apocalipse 1.5-6).

Encontramo-nos, portanto, à mesa como pessoas que dão, não como pessoas que recebem; muito embora, com toda a certeza, recebemos muito quando estamos ali de acordo com os pensamentos de Deus. Mas o objetivo de nossa reunião é adorar, render a homenagem de nosso coração a Deus, por termos sido redimidos por meio da morte de Seu Filho. E quem poderia descrever o abençoado privilégio que é anunciarmos a morte do Senhor dessa maneira? Reunidos ao redor dEle próprio, com os comoventes símbolos de Seu corpo e sangue diante de nossos olhos, reivindicando as afeições do nosso coração! Seu amor, que as muitas águas não poderiam apagar nem os rios afogar, penetra em nosso coração e toma posse de nossa alma, nos constrangendo a nos prostrarmos aos Seus pés em grata adoração, e nos fazendo almejar pelo momento quando O veremos face a face e, contemplando a Sua glória, estaremos junto a Ele, O adorando por todas as eras da eternidade!

Termino, orando para que você possa ser instruído cada vez mais no significado da morte do Senhor, como é apresentada na Sua ceia.


12 Cartas a um novo Convertido - 7ª O Senhor Jesus Cristo no Centro


O Senhor Jesus Cristo no Centro

Prezado _______:

É muito importante que você compreenda claramente o que significa a presença do Senhor no centro da assembléia; mas a condição necessária para que a promessa da Sua presença seja cumprida também não pode ser esquecida. Ele nunca prometeu estar em qualquer lugar onde os santos estivessem reunidos e nem tampouco afirmou que todos os que se reunissem, como cristãos, para adorá-Lo, poderiam contar com Sua presença. Suas palavras são: "Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí, estou Eu no meio deles". (Mateus 18.20) Sendo assim, a condição essencial é que os santos estejam reunidos em (ou 'ao') Seu nome, e se isto não for cumprido na íntegra, a promessa da Sua presença não será levada a efeito.

Nosso primeiro objetivo, portanto, será explicar o que significa esta condição. Devo esclarecer que uma tradução mais correta do texto seria "para" ou "ao Meu nome", pois a preposição aqui usada como "em" invariavelmente tem o significado de "em o", "ao" ou "para". Portanto o significado mais apropriado aqui é "reunidos ao Meu nome". Cabe ainda ressaltar que esse "nome" não é usado aqui apenas como um título, mas, como normalmente acontece nas Escrituras, trata-se de uma expressão de tudo o que Cristo é. Assim, quando o Senhor Se dirige ao Pai, para falar de Seus discípulos, dizendo, "Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais" (João 17.26a), não estava querendo dizer que revelou-lhes meramente o fato de que Deus também leva o nome de Pai, mas que esteve lhes ensinando tudo o que Deus era para eles nesta relação de parentesco. E acrescenta que já havia feito isso, e também ainda iria fazê-lo, "para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja". (João 17.26b) O que Ele desejava era que os discípulos entendessem o que Deus era para eles como Pai, e ainda revelava que eles seriam levados a desfrutar de todo o amor que Deus, como Pai, tinha para lhes dar. De um modo semelhante, a palavra "nome" na passagem citada no início (Mateus 18.20) expressa tudo o que Cristo é como homem glorificado e como Senhor no relacionamento que agora mantém com o Seu povo. Quando digo que agora mantém é porque ficou bem evidente que as palavras em João 17.26 foram proferidas acerca de uma época quando Ele estaria ausente. Do mesmo modo, em Mateus 16.18 Ele diz, "edificarei a Minha Igreja", apontando para uma época futura, e a passagem na qual a palavra "nome" ocorre (Mateus 18.20) está ligada à ação disciplinar da igreja no versículo 17. É óbvio que enquanto Ele estava neste mundo os discípulos não poderiam estar reunidos ao Seu nome, pois ainda estavam com Ele, seu Mestre e Senhor.

Podemos então tomar a palavra "nome" como expressão da Pessoa de Cristo - Ele próprio, em toda a verdade da Sua Pessoa, como Aquele que foi ressuscitado e glorificado à destra de Deus. Fica evidente que Cristo é o único objeto que nos une, e nosso único centro de atração quando estamos reunidos, pois o Espírito Santo nunca irá reunir crentes para qualquer outra coisa senão Cristo. Basta qualquer coisa ser acrescentada - seja uma doutrina peculiar, ou uma forma de governo eclesiástico em especial - e a reunião já não estará em conformidade com o pensamento de Deus. Se, por exemplo, eu concordasse em me reunir com alguns outros crentes com pontos de vista em comum, não poderíamos estar reunidos somente ao nome de Cristo, pois algo estaria sendo acrescentado ou suprimido. Mas se estivesse reunido com aqueles que reconhecem que o próprio Cristo é o único centro de atração; com aqueles que aceitam Sua autoridade como Senhor; que se submetem à Sua Palavra, e deixam que tudo seja regido por ela quando reunidos, então a reunião seria ao Seu nome. E somente neste caso, pois onde for reconhecida a autoridade do homem, suas tradições ou seus regulamentos, não importa qual seja o grau de piedade individual daqueles envolvidos, não se trata de uma reunião no mesmo caráter.

Ora, é somente no meio de Seu povo reunido desse modo que o Senhor prometeu estar. "Aí, estou Eu no meio deles." Isto por si só demonstra a extrema importância de se estar reunido ao Seu nome, pois, como dissemos, se esta condição for negligenciada, não teremos fundamento algum para contar com a Sua presença. Não basta falarmos que estamos cumprindo esta condição. O ponto essencial é: Será que o Senhor reconhece que a estamos cumprindo? Ele é o Juiz. Portanto seria uma presunção contar com a Sua presença em nosso meio, se estivéssemos nos reunindo de acordo com nossos próprios pensamentos - sem levar em consideração a Sua Palavra. Mas "onde estiverem dois ou três reunidos em (ou ao) Meu nome, aí, estou Eu no meio deles".

Portanto, sabemos que Ele está no meio dos que assim se reúnem com base na autoridade da Sua Palavra. E isto não é tudo, mas, como que para nos suprir em nossas fraquezas, Ele deixou amostra da maneira como vem para o meio dos Seus. Assim, na tarde do primeiro dia da semana, após haver ressuscitado de entre os mortos, encontramos os discípulos reunidos (João 20.19). Ele havia enviado Maria aos Seus irmãos com a mensagem: "Dize-lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus". (João 20.17) Conforme o Salmo 22.22, Ele declarou assim o nome de Deus aos Seus irmãos, revelando que os transportara, por meio de Sua morte e ressurreição, ao lugar que Ele mesmo ocupa diante de Deus. Daí em diante o Seu Deus e Pai era o Deus e Pai deles também. Estavam dessa forma associados com Ele nesse parentesco, com base na ressurreição. Aquela mensagem fez com que se reunissem ao Seu nome e, quando estavam assim reunidos, "chegou Jesus, e pôs-Se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco". (João 20.19) Dessa forma Ele nos deixou um exemplo da maneira como vem para o meio do Seu povo, de modo a termos em nossas almas a certeza da Sua Palavra sendo confirmada.

Alguém poderia ser tentado a questionar: Seria possível, nos dias de hoje, o Senhor estar no meio do Seu povo reunido ao Seu nome? A resposta a este tipo de dúvida está no surpreendente registro de como o Senhor Se colocou no meio dos Seus discípulos no primeiro dia da semana. Aquilo não apenas soluciona esta questão, como também serve de alerta para um perigo mais sutil: alguém poderia ser inclinado a objetar, em incredulidade, que se hoje pudéssemos vê-Lo com nossos olhos, como aconteceu com os discípulos, então poderíamos ter certeza da Sua presença. O Senhor conhecia a fraqueza e sutileza de nosso pobre e débil coração, e assim, com terno amor, deixou-nos uma admoestação suficiente para não cairmos nesse engano. Um dos discípulos, Tomé, "não estava com eles quando veio Jesus" (João 20.24). Outros discípulos lhe disseram: "Vimos o Senhor" (vers. 25). Mas ele lhes respondeu: "Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a minha mão no Seu lado, de maneira nenhuma o crerei". Oito dias depois, todos eles, inclusive Tomé, estavam reunidos outra vez, e como da vez anterior, "chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-Se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé [pois Ele havia escutado cada palavra de Tomé]: Põe aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos; e chega a tua mão, e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente". Tomé, inundado pela Sua terna graça e tolhido pelo sentimento de sua própria pecaminosidade, só pôde exclamar: "Senhor meu, e Deus meu!" Por isso "disse-lhe Jesus: Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram" (vers. 25-29). Dessa forma (sem entrarmos aqui na aplicação desta cena significando a conversão do remanescente judeu, quando olharão para Aquele a Quem traspassaram) o Senhor já tinha em vista os que viriam a crer por meio da palavra de Seus discípulos, e que seriam bem-aventurados. E essa bem-aventurança diz respeito a nós, pois embora não O vejamos, cremos que, de acordo com a Sua própria Palavra, Ele está em nosso meio quando nos reunimos ao Seu nome.

Todavia deveria sempre ser lembrado que é Ele próprio que Se encontra no meio - não "em espírito", como se costuma dizer, mas a Sua própria Pessoa; pois as palavras são: "Aí estou Eu", e o pronome "Eu" expressa tudo o que Ele é. É Cristo - e não o Espírito Santo, mas Cristo - que está no meio dos Seus santos reunidos. É certo que o Espírito Santo, que habita na casa de Deus, atua por meio dos membros individuais do corpo de Cristo, quando reunidos ao Seu nome, e ministra por meio de quem Ele escolhe, para edificação dos santos. Mas trata-se do próprio Cristo, eu repito, Quem vem para o nosso meio. Sua presença só pode ser compreendida por meio do Espírito, mas isto é um outro assunto De qualquer modo Ele está no meio onde dois ou três estiverem reunidos ao Seu nome, seja isto compreendido ou não. Quão maravilhosa é Sua graça e benevolência!

Nunca se esqueça, portanto, de que é ao redor do próprio Senhor que estamos reunidos. Ainda que existam apenas dois - e Suas palavras são "onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome" - aí Ele está no meio. Tão logo dois se reúnam assim, já podem se regozijar na certeza de que o Senhor está ali. Nossa fé pode ser fraca, e nossa compreensão débil, mas ainda assim permanece o fato de que Ele está presente, pois isto não depende do que sentimos ou experimentamos, mas unicamente do fato de estarmos reunidos ao Seu nome somente. Como poderíamos deixar de nos congregar, como muitos fazem (Hebreus 10.25), quando sabemos que o Senhor é o centro da assembléia e que Ele está em nosso meio de uma forma tão real quanto no primeiro dia da ressurreição? Por que Tomé estava ausente naquela ocasião? Porque não acreditava na ressurreição de seu Senhor e, por conseguinte, não contava com a Sua presença! Do mesmo modo hoje, quando alguém se ausenta da reunião da assembléia (não me refiro aqui àqueles que o fazem por uma dificuldade, obrigação ou outra circunstância), o faz porque não acredita que o Senhor realmente esteja no centro. E ao nos reunirmos, que reverência, que afeições, que adoração inundaria nosso coração se, por intermédio do Espírito, compreendêssemos mais completamente que Aquele que desceu até à morte carregado com nossos pecados; que pelo Seu sangue nos redimiu para Deus; ressuscitou, e agora, como Aquele que está exaltado e glorificado, Se compraz em estar no meio da congregação, a dirigir o Seu povo em adoração! (Leia o Salmo 22.22).