7 de janeiro de 2013

Parte 6. A Igreja como a Casa de Deus Segundo a Mente de Deus



Há dois aspectos principais nos quais a Igreja é vista no Novo Testamento; um
como o Corpo de Cristo, o outro como a Casa de Deus.

Quando a Igreja é vista no primeiro aspecto, ela é composta de todos os crentes na
terra moldados em um Corpo e unidos a um Cabeça no Céu pelo batismo no Espírito Santo
(1Co 12:12, 13; Cl 1:18). Quando a Igreja é vista como a Casa de Deus segundo a mente de
Deus, ela é composta de judeus e crentes gentios edificados juntos como uma habitação de
Deus através do Espírito (Ef 2:22).

O um Corpo apresenta o aspecto celestial da Igreja. Os crentes são constituídos um
povo celestial por causa da sua união com Cristo no Céu como o Cabeça do Corpo. A Casa
de Deus, por outro lado, sempre apresenta a Igreja com relação a terra.

A formação e a manutenção do um Corpo estão fora da responsabilidade do
homem, e por isso nada que é irreal tem alguma parte no um Corpo. É verdade que todos os
crentes são responsáveis por manter a verdade do um Corpo e andar segundo a luz dele, e
nisto falhamos penosamente; mas o um Corpo em si mesmo é formado só de crentes
verdadeiros e pelo Espírito Santo. A Casa de Deus, por outro lado, foi colocada sob a
responsabilidade do homem e, como sempre, o homem falha; por isso material sem valor
foi trazido para a Casa de Deus levando à solene afirmação do apóstolo Pedro de que “O
Juízo deve começar pela Casa de Deus” (1Pe 4:17).

Antes, contudo, de podermos formar algum idéia justa das nossas
responsabilidades com relação à Casa de Deus ou estimar a extensão do nosso fracasso na
realização dessas responsabilidades, é essencial ter claramente diante de nossa mente a
Casa de Deus segundo o propósito original de Deus. Para isto devemos nos voltar à Palavra
de Deus. É impossível aprender de uma cristandade corrupta o propósito original do
Arquiteto Divino em ter uma Casa na terra.

Voltando à Escritura, somos ao mesmo tempo confrontados com o fato de que a
Casa de Deus tem um lugar muito amplo tanto no Velho Testamento como no Novo. A
primeira menção dela está na Gênese 28; a última, em Apocalipse 21. Do primeiro livro ao
último, da criação atual desse tempo agora até o novo céu e nova terra na eternidade, a Casa
de Deus é um dos grandes objetivos invariáveis diante da mente de Deus.

É verdadeiro que a composição da Casa é muito diferente em tempos diferentes.
Nos dias do Velho Testamento era formada de tábuas e cortinas, e mais tarde de pedras
materiais. Hoje, no propósito de Deus, a Casa é composta “de pedras vivas”. Mas enquanto
a sua composição varia, o objetivo da Casa permanece o mesmo. Qualquer que seja a forma
que ela tome, o propósito é sempre de constituir uma residência para Deus. Salomão
expressa esse pensamento quando diz: “Construí uma casa de habitação para Ti, e um lugar
para Tu habitares para sempre” (2Cr 6:2). Deus, para a satisfação do Seu próprio coração,
determinou habitar com os homens.

Deve, contudo, ser evidente que a Casa de Deus deve ter certas características.
Qualquer forma que ela possa tomar, deve ser inevitavelmente ajustada a Deus. A primeira
epístola a Timóteo foi especialmente escrita para nos instruir sobre o comportamento
ajustado à Casa de Deus (1Tm 3:15). Mas para ter o comportamento certo, é essencial que
se saiba as características marcantes da Casa de Deus.

A santidade é o primeiro grande aspecto característico, como lemos no Salmos
93:5: “A santidade convém à Tua Casa, Senhor, para sempre”. Novamente lemos, em
Ezequiel 43:12: “Esta é a lei da Casa: Sobre o topo da montanha o todo o contorno em
redor será santíssimo. Eis que esta é a lei da Casa”. A santidade, então, é a primeira lei da
Casa. Em acordo com isto, Timóteo deve encarregar aqueles que formam a Casa de Deus
de manter “o amor de um coração puro, e de uma boa consciência e fé não fingida”, e, além
disso, recusar toda conduta contrária à sã doutrina (1Tm 1:5-10). Além disso, a Casa de
Deus deve ser marcada pela dependência de Deus. Assim a oração tem um lugar amplo
nela, pois a oração é a expressão da dependência de Deus. Por isso lemos: “Quero pois que
os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda” (1Tm 2:8).
Tudo o que está na Casa de Deus deve ser dependente de Deus que habita ali. Além dessa,
outra grande característica é a sujeição a autoridade. Na Casa de Deus a mulher deve
aprender em sujeição e não usurpar da autoridade sobre o homem (1Tm 2:11, 12).
Finalmente, é marcada pela supervisão e cuidado. Supervisão com relação à prosperidade
espiritual das almas (1Tm 3:1-7), e cuidado quanto às necessidades temporais físicas dos
homens (8-13).

O mundo é marcado pela maldade e independência, a revolta contra toda
autoridade, sem supervisão espiritual e nenhum cuidado adequado do físico dos homens;
mas na Casa de Deus as condições inteiramente opostas devem prevalecer. Ali segundo a
mente de Deus a santidade deve ser mantida; ali todos devem estar na dependência de
Deus; ali todos devem estar em sujeição à autoridade que Deus ordenou; e ali as almas são
alimentadas e os corpos físicos cuidados.

Essas, então, são algumas características principais. Santidade, dependência,
sujeição, supervisão e cuidado. Além disso, essas características são necessárias para que o
propósito de Deus para a Sua Casa seja devidamente executado.

Qual, então, é o grande propósito que Deus tem no coração em habitar entre os
homens? Primeiro, se Deus tem um lugar de habitação entre os homens, é para que Deus
possa ser conhecido ao abençoar os homens. Em segundo lugar, se o homem é abençoado,  
para que possa louvar a Deus. Esses são os dois grandes fins propostos em relação à Casa
de Deus – Deus se tornou conhecido para o homem na bênção para que o homem possa se
voltar a Deus em louvor.

Em vista do propósito de Deus, fica bastante claro o privilégio e a
responsabilidade daqueles que fazem parte da Casa de Deus em expressar e louvar a Deus.
Esses princípios principais são muito belamente apresentados na primeira passagem da
Escritura que fala da Casa de Deus – Gênese 28:10-22. Ali Jacó, o viajante sem casa, tem
uma visão da Casa de Deus, e ao mesmo tempo ali aparece diante de nós o propósito de
Deus e a responsabilidade do homem com relação à Casa de Deus. Deus se revela a Jacó
como Aquele que está determinado a abençoar o homem na soberana graça. “Em ti”, diz
Deus, “e em tua semente todas as famílias da terra serão abençoadas”. Além disso, o que
Deus prometeu Ele executará. Ele será fiel à Sua própria palavra. “Não ti deixarei, até que
tenha feito aquilo que falei a ti”. Então do nosso lado temos a dupla responsabilidade do
homem. Jacó diz: “Esta não é nada mais que a Casa de Deus, e esta é a porta do céu”. Logo
depois estabeleceu “uma coluna, e derramou óleo sobre ela”. A porta apresenta a idéia do
acesso para o céu. Pela porta nos é permitidos entrar em contato com o céu para louvar e
orar. E é dito que esta porta não está em algum lugar distante além dos limites da terra. A
porta do céu está sempre na terra, e aqui, enquanto estamos na terra, temos que usar a porta. A coluna, como sabemos da história da separação entre Jacó e Labão, traz com ela a ideia do testemunho (Gn 31:52). Assim temos a nossa dupla responsabilidade com relação à
casa. Por um lado para se aproximar de Deus em oração e louvor, por outro, para se
aproximar do homem como um testemunho de Deus – um testemunho que só pode ser
levado a cabo no poder do Espírito, como estabelecido na coluna com o óleo derramado
sobre ela.

Indo para 2 Crônicas 6, podemos ver o objetivo de Deus e a responsabilidade do
homem novamente apresentados na dedicação da casa construída pelo rei Salomão.
Primeiro vemos que ela é o lugar onde Deus se apresenta em bênção para o homem. O rei,
representando a atitude de Deus para com o homem, “virou o seu rosto, e abençoou a toda a
congregação de Israel” (verso 3). Além disso, o rei dá o testemunho da fidelidade de Deus à
Sua palavra, “assim confirmou o Senhor a Sua palavra, que Ele falou” (versos 4, 10, 15).
Então no lado da responsabilidade e privilégio do homem, vemos que o templo de Salomão
se torna a porta do céu. Nove vezes o rei pede que a oração em direção a este lugar possa
ser ouvida no céu. A Casa se torna a porta de acesso ao céu (versos 21-40). Finalmente, a
Casa que Salomão construiu devia, assim como a coluna de Jacó, ser o testemunho de Deus
entre todas as nações da terra, como ele diz: “a fim de que todos os povos da terra
conheçam o Teu nome, e Ti temam como o Teu povo Israel, e saibam que pelo Teu nome é
chamada esta casa que edifiquei”. (verso 33).

Voltando ao Novo Testamento, vemos na primeira epístola de Pedro que, embora a
forma da Casa de Deus tenha se alterado, o objetivo de Deus e as responsabilidades do
homem com relação à Casa, permanecem as mesmas. Aqui, ela não é mais uma Casa
material de pedras mortas, mas uma Casa espiritual de pedras vivas. “Vós”, diz o apóstolo,
“como pedras vivas sois edificados como Casa espiritual” (1Pe 2:5). No primeiro capítulo
da epístola aprendemos que aqueles que formam esta Casa são os sujeitos da bênção
soberana de Deus, como lemos: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível,
incontaminável e imarcescível, reservada nos céus para vós” (1Pe 1:3-4). Então além disso
aprendemos que esta bênção é assegurada “pela Palavra do Senhor”, que “resiste para
sempre”. Prosseguindo ao capítulo 2, encontramos a apresentação dos nossos privilégios e
responsabilidades com relação à Casa. Por um lado somos edificados juntos “para oferecer
sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo”. Por outro, diante dos homens,
devemos “anunciar as grandezas Daquele que vos chamou das trevas para a Sua
maravilhosa luz” (verso 9). Aqui, então, temos mais uma vez “a porta do céu” e “a coluna”
com a unção do óleo. Nos aproximamos de Deus para oferecer o louvor e a oração; nos
aproximamos dos homens como uma testemunha das Suas grandezas.

Finalmente podemos perguntar: quando foi que a Casa de Deus, em sua forma
atual, nasceu? Muito conclusivamente a Escritura responde – não antes que a redenção
fosse consumada. Se Deus dever vir para o meio de um povo adorador, então Cristo deve
passar primeiro pela escuridão e renuncia da cruz. Ali ouvimos aquele brado: “Deus Meu,
Deus Meu, por que Me desamparaste?” E Aquele que proferiu o brado sozinho pode dar a
resposta: “Tu és santo, O Tu que habitas nos louvores de Israel”. Se o Deus santo dever
habitar no meio de um povo adorador, Cristo tem que remir este povo passando pela morte.

Jacó, como vimos, pode falar da Casa de Deus, mas não antes que a redenção seja
consumada Deus fala da habitação entre os filhos de Israel (ver o Êxodo 29: 45). Nem com
Adão o inocente nem com Abraão o crente poderia Deus viver. Ele de fato pode andar no
jardim, e conceder uma visita de passagem para Abraão, mas nem a inocência e nem a
fidelidade asseguraram um lugar de habitação para Deus. A mera inocência não serviria
para Casa de Deus; a fidelidade do homem não a asseguraria quando a inocência fosse
perdida. A habitação de Deus entre os homens é o fruto da redenção, pois dessa maneira o
crente está preparado para Deus, e dessa maneira um Deus santo está preparado para ser
conhecido pelo homem. Está claro que “a Casa de Deus que é a Assembléia de Deus vivo”
não existiu até que a redenção fosse realizada. Então no dia do Pentecostes, estando os
discípulos juntos em um lugar em Jerusalém, o Espírito Santo desceu e “encheu toda a Casa
onde estavam” e “foram todos cheios do Espírito Santo”. O povo de Deus que estava até
aqui espalhado fora da casa foi então constituídos em Habitação de Deus, e Deus assumiu o
Seu lugar de habitação na Casa.

Por HAMILTO SMITH.

Continue Lendo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.