Há dois aspectos principais nos quais a
Igreja é vista no Novo Testamento; um
como o Corpo de Cristo, o outro como a Casa
de Deus.
Quando a Igreja é vista no primeiro
aspecto, ela é composta de todos os crentes na
terra moldados em um Corpo e unidos a um
Cabeça no Céu pelo batismo no Espírito Santo
(1Co 12:12, 13; Cl 1:18). Quando a Igreja é
vista como a Casa de Deus segundo a mente de
Deus, ela é composta de judeus e crentes
gentios edificados juntos como uma habitação de
Deus através do Espírito (Ef 2:22).
O um Corpo apresenta o aspecto celestial da
Igreja. Os crentes são constituídos um
povo celestial por causa da sua união com
Cristo no Céu como o Cabeça do Corpo. A Casa
de Deus, por outro lado, sempre apresenta a
Igreja com relação a terra.
A formação e a manutenção do um Corpo estão
fora da responsabilidade do
homem, e por isso nada que é irreal tem
alguma parte no um Corpo. É verdade que todos os
crentes são responsáveis por manter a
verdade do um Corpo e andar segundo a luz dele, e
nisto falhamos penosamente; mas o um Corpo
em si mesmo é formado só de crentes
verdadeiros e pelo Espírito Santo. A Casa
de Deus, por outro lado, foi colocada sob a
responsabilidade do homem e, como sempre, o
homem falha; por isso material sem valor
foi trazido para a Casa de Deus levando à
solene afirmação do apóstolo Pedro de que “O
Juízo deve começar pela Casa de Deus” (1Pe
4:17).
Antes, contudo, de podermos formar algum
idéia justa das nossas
responsabilidades com relação à Casa de
Deus ou estimar a extensão do nosso fracasso na
realização dessas responsabilidades, é
essencial ter claramente diante de nossa mente a
Casa de Deus segundo o propósito original
de Deus. Para isto devemos nos voltar à Palavra
de Deus. É impossível aprender de uma
cristandade corrupta o propósito original do
Arquiteto Divino em ter uma Casa na terra.
Voltando à Escritura, somos ao mesmo tempo
confrontados com o fato de que a
Casa de Deus tem um lugar muito amplo tanto
no Velho Testamento como no Novo. A
primeira menção dela está na Gênese 28; a
última, em Apocalipse 21. Do primeiro livro ao
último, da criação atual desse tempo agora
até o novo céu e nova terra na eternidade, a Casa
de Deus é um dos grandes objetivos
invariáveis diante da mente de Deus.
É verdadeiro que a composição da Casa é
muito diferente em tempos diferentes.
Nos dias do Velho Testamento era formada de
tábuas e cortinas, e mais tarde de pedras
materiais. Hoje, no propósito de Deus, a
Casa é composta “de pedras vivas”. Mas enquanto
a sua composição varia, o objetivo da Casa
permanece o mesmo. Qualquer que seja a forma
que ela tome, o propósito é sempre de
constituir uma residência para Deus. Salomão
expressa esse pensamento quando diz:
“Construí uma casa de habitação para Ti, e um lugar
para Tu habitares para sempre” (2Cr 6:2).
Deus, para a satisfação do Seu próprio coração,
determinou habitar com os homens.
Deve, contudo, ser evidente que a Casa de
Deus deve ter certas características.
Qualquer forma que ela possa tomar, deve
ser inevitavelmente ajustada a Deus. A primeira
epístola a Timóteo foi especialmente
escrita para nos instruir sobre o comportamento
ajustado à Casa de Deus (1Tm 3:15). Mas
para ter o comportamento certo, é essencial que
se saiba as características marcantes da
Casa de Deus.
A santidade é o primeiro grande aspecto
característico, como lemos no Salmos
93:5: “A santidade convém à Tua Casa,
Senhor, para sempre”. Novamente lemos, em
Ezequiel 43:12: “Esta é a lei da Casa:
Sobre o topo da montanha o todo o contorno em
redor será santíssimo. Eis que esta é a lei
da Casa”. A santidade, então, é a primeira lei da
Casa. Em acordo com isto, Timóteo deve
encarregar aqueles que formam a Casa de Deus
de manter “o amor de um coração puro, e de
uma boa consciência e fé não fingida”, e, além
disso, recusar toda conduta contrária à sã
doutrina (1Tm 1:5-10). Além disso, a Casa de
Deus deve ser marcada pela dependência de
Deus. Assim a oração tem um lugar amplo
nela, pois a oração é a expressão da
dependência de Deus. Por isso lemos: “Quero pois que
os homens orem em todo lugar, levantando
mãos santas, sem ira nem contenda” (1Tm 2:8).
Tudo o que está na Casa de Deus deve ser
dependente de Deus que habita ali. Além dessa,
outra grande característica é a sujeição a
autoridade. Na Casa de Deus a mulher deve
aprender em sujeição e não usurpar da
autoridade sobre o homem (1Tm 2:11, 12).
Finalmente, é marcada pela supervisão e cuidado.
Supervisão com relação à prosperidade
espiritual das almas (1Tm 3:1-7), e cuidado
quanto às necessidades temporais físicas dos
homens (8-13).
O mundo é marcado pela maldade e
independência, a revolta contra toda
autoridade, sem supervisão espiritual e
nenhum cuidado adequado do físico dos homens;
mas na Casa de Deus as condições
inteiramente opostas devem prevalecer. Ali segundo a
mente de Deus a santidade deve ser mantida;
ali todos devem estar na dependência de
Deus; ali todos devem estar em sujeição à
autoridade que Deus ordenou; e ali as almas são
alimentadas e os corpos físicos cuidados.
Essas, então, são algumas características
principais. Santidade, dependência,
sujeição, supervisão e cuidado. Além disso,
essas características são necessárias para que o
propósito de Deus para a Sua Casa seja
devidamente executado.
Qual, então, é o grande propósito que Deus
tem no coração em habitar entre os
homens? Primeiro, se Deus tem um lugar de
habitação entre os homens, é para que Deus
possa ser conhecido ao abençoar os homens.
Em segundo lugar, se o homem é abençoado,
para que possa louvar a Deus. Esses são os
dois grandes fins propostos em relação à Casa
de Deus – Deus se tornou conhecido para o
homem na bênção para que o homem possa se
voltar a Deus em louvor.
Em vista do propósito de Deus, fica
bastante claro o privilégio e a
responsabilidade daqueles que fazem parte
da Casa de Deus em expressar e louvar a Deus.
Esses princípios principais são muito
belamente apresentados na primeira passagem da
Escritura que fala da Casa de Deus – Gênese
28:10-22. Ali Jacó, o viajante sem casa, tem
uma visão da Casa de Deus, e ao mesmo tempo
ali aparece diante de nós o propósito de
Deus e a responsabilidade do homem com
relação à Casa de Deus. Deus se revela a Jacó
como Aquele que está determinado a abençoar
o homem na soberana graça. “Em ti”, diz
Deus, “e em tua semente todas as famílias
da terra serão abençoadas”. Além disso, o que
Deus prometeu Ele executará. Ele será fiel
à Sua própria palavra. “Não ti deixarei, até que
tenha feito aquilo que falei a ti”. Então
do nosso lado temos a dupla responsabilidade do
homem. Jacó diz: “Esta não é nada mais que
a Casa de Deus, e esta é a porta do céu”. Logo
depois estabeleceu “uma coluna, e derramou
óleo sobre ela”. A porta apresenta a idéia do
acesso para o céu. Pela porta nos é
permitidos entrar em contato com o céu para louvar e
orar. E é dito que esta porta não está em
algum lugar distante além dos limites da terra. A
porta do céu está sempre na terra, e aqui,
enquanto estamos na terra, temos que usar a porta. A coluna, como sabemos da
história da separação entre Jacó e Labão, traz com ela a ideia do testemunho
(Gn 31:52). Assim temos a nossa dupla responsabilidade com relação à
casa. Por um lado para se aproximar de Deus
em oração e louvor, por outro, para se
aproximar do homem como um testemunho de
Deus – um testemunho que só pode ser
levado a cabo no poder do Espírito, como
estabelecido na coluna com o óleo derramado
sobre ela.
Indo para 2 Crônicas 6, podemos ver o
objetivo de Deus e a responsabilidade do
homem novamente apresentados na dedicação
da casa construída pelo rei Salomão.
Primeiro vemos que ela é o lugar onde Deus
se apresenta em bênção para o homem. O rei,
representando a atitude de Deus para com o
homem, “virou o seu rosto, e abençoou a toda a
congregação de Israel” (verso 3). Além
disso, o rei dá o testemunho da fidelidade de Deus à
Sua palavra, “assim confirmou o Senhor a
Sua palavra, que Ele falou” (versos 4, 10, 15).
Então no lado da responsabilidade e
privilégio do homem, vemos que o templo de Salomão
se torna a porta do céu. Nove vezes o rei
pede que a oração em direção a este lugar possa
ser ouvida no céu. A Casa se torna a porta
de acesso ao céu (versos 21-40). Finalmente, a
Casa que Salomão construiu devia, assim
como a coluna de Jacó, ser o testemunho de Deus
entre todas as nações da terra, como ele
diz: “a fim de que todos os povos da terra
conheçam o Teu nome, e Ti temam como o Teu
povo Israel, e saibam que pelo Teu nome é
chamada esta casa que edifiquei”. (verso
33).
Voltando ao Novo Testamento, vemos na
primeira epístola de Pedro que, embora a
forma da Casa de Deus tenha se alterado, o
objetivo de Deus e as responsabilidades do
homem com relação à Casa, permanecem as
mesmas. Aqui, ela não é mais uma Casa
material de pedras mortas, mas uma Casa
espiritual de pedras vivas. “Vós”, diz o apóstolo,
“como pedras vivas sois edificados como
Casa espiritual” (1Pe 2:5). No primeiro capítulo
da epístola aprendemos que aqueles que
formam esta Casa são os sujeitos da bênção
soberana de Deus, como lemos: “Bendito seja
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que, segundo a sua grande misericórdia, nos
regenerou para uma viva esperança, pela
ressurreição de Jesus Cristo dentre os
mortos, para uma herança incorruptível,
incontaminável e imarcescível, reservada
nos céus para vós” (1Pe 1:3-4). Então além disso
aprendemos que esta bênção é assegurada
“pela Palavra do Senhor”, que “resiste para
sempre”. Prosseguindo ao capítulo 2,
encontramos a apresentação dos nossos privilégios e
responsabilidades com relação à Casa. Por
um lado somos edificados juntos “para oferecer
sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus
por Jesus Cristo”. Por outro, diante dos homens,
devemos “anunciar as grandezas Daquele que
vos chamou das trevas para a Sua
maravilhosa luz” (verso 9). Aqui, então,
temos mais uma vez “a porta do céu” e “a coluna”
com a unção do óleo. Nos aproximamos de
Deus para oferecer o louvor e a oração; nos
aproximamos dos homens como uma testemunha
das Suas grandezas.
Finalmente podemos perguntar: quando foi
que a Casa de Deus, em sua forma
atual, nasceu? Muito conclusivamente a
Escritura responde – não antes que a redenção
fosse consumada. Se Deus dever vir para o
meio de um povo adorador, então Cristo deve
passar primeiro pela escuridão e renuncia
da cruz. Ali ouvimos aquele brado: “Deus Meu,
Deus Meu, por que Me desamparaste?” E
Aquele que proferiu o brado sozinho pode dar a
resposta: “Tu és santo, O Tu que habitas
nos louvores de Israel”. Se o Deus santo dever
habitar no meio de um povo adorador, Cristo
tem que remir este povo passando pela morte.
Jacó, como vimos, pode falar da Casa de
Deus, mas não antes que a redenção seja
consumada Deus fala da habitação entre os
filhos de Israel (ver o Êxodo 29: 45). Nem com
Adão o inocente nem com Abraão o crente
poderia Deus viver. Ele de fato pode andar no
jardim, e conceder uma visita de passagem
para Abraão, mas nem a inocência e nem a
fidelidade asseguraram um lugar de
habitação para Deus. A mera inocência não serviria
para Casa de Deus; a fidelidade do homem
não a asseguraria quando a inocência fosse
perdida. A habitação de Deus entre os
homens é o fruto da redenção, pois dessa maneira o
crente está preparado para Deus, e dessa
maneira um Deus santo está preparado para ser
conhecido pelo homem. Está claro que “a
Casa de Deus que é a Assembléia de Deus vivo”
não existiu até que a redenção fosse
realizada. Então no dia do Pentecostes, estando os
discípulos juntos em um lugar em Jerusalém,
o Espírito Santo desceu e “encheu toda a Casa
onde estavam” e “foram todos cheios do
Espírito Santo”. O povo de Deus que estava até
aqui espalhado fora da casa foi então
constituídos em Habitação de Deus, e Deus assumiu o
Seu lugar de habitação na Casa.
Por HAMILTO SMITH.
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