Vimos que a Igreja, como o Corpo de Cristo,
é visto na Escritura de um modo
triplo. Primeiro, na Epístola aos Efésios,
com relação aos conselhos do Pai; em segundo
lugar, na Epístola ao Colossenses, como o
vaso da exposição de Cristo; em terceiro lugar,
em 1 Coríntios 12, como o instrumento das
manifestações do Espírito.
No último capítulo examinamos o Corpo nos
dois primeiros aspectos. Resta então
ver resumidamente o Corpo com relação às
manifestações do Espírito trazidas para diante de
nós em 1 Coríntios 12. O objetivo, contudo,
desse capítulo não é o Corpo, mas o Espírito. O
Corpo é apresentado como o instrumento que
o Espírito usa para a exposição de Cristo.
A ruína da cristandade foi basicamente
ocasionada pela perda de todo o sentido da
presença e do poder do Espírito Santo. O
clericalismo, a organização humana, e a adoção de
métodos carnais deixaram de lado o Espírito
Santo. Por isso, a grande importância deste
capítulo consiste em que ele sustenta os
direitos do Espírito Santo na assembléia e extrai
instrução quanto ao verdadeiro caráter das
manifestações espirituais.
Dando uma rápida olhada no capítulo,
primeiro notamos nos versos 2 e 3 o objetivo
das manifestações espirituais. A grande
finalidade que o Espírito Santo sempre tem em vista,
qualquer forma que as manifestações tomem
elas devem exaltar a Cristo. Ele sempre leva à
confissão de Jesus como o Senhor. Admitindo
isso, somos uma vez capazes de testar o
espírito pelo qual os homens falam. Não é
uma questão de distinguir entre um crente e um
incrédulo, mas de testar o espírito pelo
qual os homens falam. É pelo espírito maligno, ou é
pelo Espírito de Deus? Se alguém está
falando por um espírito maligno, por mais que o
locutor seja instruído, por mais eloqüente
que seja o discurso, por mais aparentemente moral
que seja o tom, de uma forma ou de outra,
Cristo será infamado. Se alguém estiver falando
pelo Espírito Santo, por mais simples que
seja o discurso ou indulto o locutor, Cristo será
exaltado. Aplique este teste aos Unitárianos,
aos Criticistas, ou Modernistas, e então eles
serão expostos, pois de maneiras diferentes
todos se unem para roubar a Cristo de Sua
glória.
Mas embora todos que falem pelo Espírito
Santo exaltem a Cristo, isso não quer
dizer que todos têm o mesmo dom. Isso leva
o apóstolo nos versos 4 a 6 a falar da
diversidade dos dons espirituais. O
apóstolo nos diz que há diversidades de dons; ao mesmo
tempo somos lembrados de que a diversidade
de dons não sacrifica a unidade do alvo. Já que a diversidade de dons é
controlada pelo mesmo Espírito, e assim todos conduzem à
exaltação e a expressão de Cristo (verso
4).
Além disso, os diferentes dons usados pelo
Espírito têm em vista formas diferentes
de serviços sob o controle de um Senhor que
dirige o serviço (verso 5).
Ainda mais, o uso dos dons nos diferentes
serviços produzirá efeitos diferentes em
operações sobre as almas, mas é o mesmo
Deus que opera tudo o que é operado em todos
(verso 6).
Esses versos (4-6) repreendem, e ao mesmo
tempo corrigem a maior parte da grave
desordem na cristandade. Pois o uso do dom
na habilidade humana, na sabedoria humana, e
no treinamento teológico da cristandade é
exigido como uma necessidade preliminar. Não,
diz o apóstolo, vocês necessitam daquilo
que nenhuma escola de homens pode dar e
nenhuma obtenção humana pode suprir – vocês
necessitam do poder e da energia do Espírito Santo.
O mundo religioso exige que você seja
ordenado por homens e tenha a autorização
do homem antes de ministrar a outros. Não,
diz o apóstolo, o serviço segunde Deus necessita
da autoridade e direção do Senhor e não
aturará nenhuma autoridade rival.
Mais uma vez temos tendência de pensar que
através da eloqüência e da apelação
comovente se produzirá uma impressão nas
almas dos homens. Não, diz o apóstolo, é “Deus
que opera tudo em todos”. Deus opera tudo o
que é divino em todos aqueles nos quais há
uma obra vital.
Tendo falado de diversidades de dons, o
apóstolo nos versos 7 a 11, passa a falar da
distribuição das manifestações espirituais.
É importante notar que não é dito apenas que os
dons são dados, mas que as manifestações
dos dons são dadas. Isto é, o apóstolo está falando primeiramente do uso dos
dons. Por essa razão não é apenas a “sabedoria”, mas “a palavra da sabedoria”;
não apenas a “ciência”, mas “a palavra da ciência”; não são apenas as
“maravilhas”, mas “a operação de
maravilhas”. Quatro verdades importantes são impostas.
Primeira: qualquer que seja o caráter das
manifestações e como quer que seja distribuído,
tudo flui do mesmo Espírito (versos 8, 9,
10). Assim a unidade é mantida.
Segunda: o Espírito distribui as
manifestações dos dons a “cada um” (versos 7, 11).
Ele recusa concentrar inteiramente todas as
Suas manifestações em um homem ou em uma
determinada classe de homens. Isso reprova
aquilo que é a maior de todas as desordens na
cristandade – a colocação à parte de uma
classe especial de homens para o ministério e
assim dividindo o povo professo de Deus em
clero e leigo. A Escritura não admite nenhuma
tal distinção. A cristandade em sua prática
contradiz a ordem de Deus e diz que as
manifestações do Espírito são dadas a um
homem que preside sobre a assembléia. Não, diz o apóstolo, é a cada homem na
assembléia.
Terceira: a manifestação do Espírito é dada
a cada homem “para o que for útil”. É
dada em vista do bem comum. Não é dada para
a exaltação ou a proeminência do indivíduo,
para obter a influência pessoal ou o lucro,
ou como um meio de sustento. É dado para o que
for útil – utilidade espiritual.
Quarta: o Espírito distribui a manifestação
a cada homem separadamente “como
quer” (verso 11). Isto exclui a vontade do
homem. Então devemos deixar espaço para o
Espírito operar segundo a Sua vontade. Se
apontarmos o ministro ou arranjarmos o
ministério, estaremos pondo restrições
sobre a Sua vontade pelo emprego das nossas
vontades, e assim impedindo que o Espírito
Santo use quem Ele quiser.
Tendo falado da distribuição dos dons, e
mostrado que a “operação dos dons é pelo
Espírito”, o apóstolo passa a falar, nos
versos 12 a 27, do instrumento para as manifestações
espirituais. Isso introduz o Corpo de
Cristo. É bom observar que o Corpo só é de fato
mencionado nos versos 13 e 27. Em todos os
outros versos o apóstolo está falando do corpo
humano como uma ilustração. À parte desta
grande verdade não pode haver nenhum uso
engenhoso do dom. Pois, segundo a ordem de
Deus, o Espírito não nos usa como indivíduos
isolados, mas como os membros do Corpo de
Cristo, e para o bem de todo o Corpo. Usando
o corpo humano como uma ilustração, o
apóstolo mostra que assim como o corpo humano é
um e por isso composto de muitos membros,
cada um tem um lugar e função especiais no
corpo, “assim também é Cristo”. Esse é um
modo notável de apresentar a verdade. O objeto
é o um Corpo, mas o apóstolo não diz:
“assim também é o Corpo de Cristo”, mas “assim
também é Cristo”, porque o um Corpo é visto
sob o olhar de Deus como a expressão de
Cristo. Esse Corpo foi formado pelo batismo
do Espírito Santo, e realmente tem sido dito
que o batismo do Espírito não foi destinado
para nos levar para o céu, mas para que pudesse
haver um Corpo na terra que devesse ser
moralmente uma reprodução de Cristo. Para
entrarmos no verdadeiro significado do um
Corpo, devemos nos lembrar de dois fatos.
Primeiro: que Cristo pessoalmente está
ausente no mundo; segundo: que o Espírito Santo
está presente no mundo. Durante o tempo da
ausência de Cristo, os crentes judeus e gentios
foram juntados em um Corpo, pelo Espírito
Santo, para que Cristo caracteristicamente possa
ser reproduzido em Seu Corpo – para que
tudo o que Ele fez em perfeição no Seu corpo
quando estava aqui – pastoreando,
ensinando, pregando e abençoando – possa continuar em
Seu Corpo espiritual agora que Ele se foi.
Esse batismo do Espírito Santo aconteceu em
relação aos crentes judeus no
Pentecostes (ver Atos 1:5; Atos 2:1-4); e
em relação aos crentes gentios no pedido de
Cornélio e seus amigos (Atos 10:44; Atos
11:15-17). O batismo do Espírito implica em
colocar à parte tudo o que é após a carne.
As distinções naturais, como judeu ou gentio, e as
posições sociais, tais como servo ou livre,
não têm nenhum lugar no um Corpo. Não
podemos pensar em nós como sendo judeu ou
gentio, ou segundo qualquer outra distinção
carnal, pois “em um Espírito somos
batizamos em um Corpo”. Todos formando o um Corpo
têm “bebido de um Espírito”. Desfrutamos
das mesmas bênçãos e privilégios, pois esse
desfrute provém de uma fonte – o Espírito
Santo.
Aqui o apóstolo usa novamente o corpo
humano para reforçar certas verdades
práticas com relação às manifestações espirituais
em um Corpo. Primeira: ele afirma que no
Corpo há diversidade em unidade (versos
14-19). “O Corpo não é um só membro, mas
muitos”; isto é, embora haja um corpo há
muitos membros. Mas essa diversidade seria
inteiramente perdida, e se seguiria a mais grave
desordem, se cada membro negligenciasse a
sua própria função por causa da inveja dos
membros que talvez tenham uma função mais
elevada. Se o pé começasse a se queixar por
não ser uma mão e o ouvido se queixasse por
não ser um olho, o funcionamento do corpo
cessaria, pois os membros que se queixam
deixam de funcionar eficazmente para o bem
do corpo. Como então é prevenida a desordem
entre os muitos membros? Pelo
reconhecimento de que é Deus que “colocou os membros no
Corpo, cada um deles como quis”. Assim no
Corpo de Cristo é Deus que deu a cada um o
seu lugar e função marcados, com a
conseqüência de que nenhum membro é preeminente. A
preeminência de um membro mataria o Corpo
completamente. “Se todos fossem um só
membro onde estaria o Corpo?”
Além disso, o apóstolo usa o outro lado da
verdade. Há unidade em diversidade
(versos 20-24). Se houver muitos membros,
devemos nos lembrar que há somente um
Corpo. Mas a unidade do Corpo seria posta
em perigo se os membros mais elevados
tivessem que olhar com desdém para os mais
baixos. Vimos que a inveja um do outro
quebraria a diversidade; agora aprendemos
que o desdém quebraria a unidade. Se o olho
trata a mão com desprezo, e a cabeça
escarnecesse dos pés, toda a unidade do corpo se iria.
O que se opõem a esse perigo? Novamente o
reconhecimento da própria obra de Deus. Deus
temperou o Corpo conjuntamente de tal
maneira que nenhum membro pode fazer sem o
outro. O membro mais elevado requer o menor
– não, muito mais aqueles membros do
Corpo que parecem ser mais fracos são
necessários. Não é simplesmente que todos
trabalham para o bem comum, mas que nenhum
membro pode executar apropriadamente as
suas funções sem os outros membros – em uma
palavra, cada membro é indispensável.
Há assim dois perigos graves que podem trazer
a desordem para o Corpo. Um é o
descontentamento da parte dos membros menos
proeminentes com o lugar concedido a eles;
o outro é o desdém da parte dos membros
mais proeminentes para com aqueles que parecem ser mais fracos. Um quebra a
diversidade, o outro destrói a unidade; ambos destroem as funções apropriadas
do Corpo. Faça Deus entrar, e em cada caso a desordem é resolvida. É Deus que
deu a cada membro o seu trabalho especial, e Deus temperou tanto conjuntamente os
membros do Corpo que nenhum membro é preeminente e cada membro é indispensável.
O resultado da obra e sabedoria de Deus é
que os membros do corpo humano têm “igual cuidado uns dos outros” (verso 25).
Não simplesmente que eles “cuidam um do
outro”, mas que têm um interesse mútuo um
pelo outro, para que se “um membro padece,
todos os membros padecem com ele; e se um
membro é honrado, todos os membros se
regozijam com ele”. O apóstolo não diz que
isto deve ser assim, mas que é assim. Na
aplicação ao Corpo de Cristo a expressão
dessa verdade é muito impedida pelo sectarismo e
pelas barreiras denominacionais que foram
estabelecidas pelo homem; mas a verdade
permanece de que o que afeta um membro
afeta todos os membros porque os membros estão unidos um ao outro pelo Espírito
Santo, e aquele que depende do Espírito suporta, por mais que o nosso fracasso
possa impedir a sua expressão. A condição arruinada do povo de Deus diminuiu a
nossa sensibilidade espiritual; mas quanto mais somos controlados pelo
Espírito, mais profunda será a nossa compreensão dessa verdade. Como alguém
disse:
“Conscientemente sofremos ou nos alegramos
na medida da nossa capacitação espiritual”.
O apóstolo esteve falando do corpo humano
como o exemplo do Corpo de Cristo.
Agora ele dá a essas verdades uma aplicação
local. Ele diz aos santos coríntios: “Ora vós
sois Corpo de Cristo, e seus membros em
particular”. Ele não diz: “Vós sois o Corpo de
Cristo”, como a tradução autorizada diz. A
assembléia dos coríntios não era “todo o Corpo
de Cristo”, mas eles eram a expressão local
do um Corpo. Assim é o privilégio e a
responsabilidade da assembléia local. Eles
são “Corpo de Cristo,” não independentemente –
o que negaria a verdade do um Corpo – mas
representativamente, o que mantém a verdade.
Hoje dificilmente podemos dizer de qualquer
companhia local de santos: “Ora vós
sois Corpo de Cristo”, pois nenhuma
companhia local inclui todos os santos em certa
localidade: e mesmo que isso fosse assim,
assumir ser o Corpo de Cristo em um lugar seria
mera pretensão. No começo, a assembléia
local representava o que era visivelmente
verdadeiro do todo. Hoje, a igreja está em
ruína, e qualquer companhia que assume ser o
Corpo de Cristo está pretendendo expressar
algo que não é verdadeiro na igreja professa.
Isso seria mera independência. Infelizmente,
na verdade, várias comunidades são localmente
apenas a expressão das suas respectivas
denominações. Contudo, ainda é nossa
responsabilidade recusar a ir em frente com
qualquer coisa que negue essa grande verdade e
nosso privilégio e benção andar na luz
dela.
Por HAMILTO SMITH.
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